Por Evelise Martins da Silva*
Diferentes tipos de solo
Os solos brasileiros são altamente intemperizados, com mineralogia da fração argila composta de caulinita e óxidos de ferro e de alumínio.
O tipo de solo interfere nos componentes físicos, químicos e biológicos, sendo eles:
Físicos Agregação
- Densidade do solo;
- Infiltração de água;
- Retenção de água;
- Umidade do solo;
- Temperatura do solo;
- Profundidade do sistema radicular;
- Textura do solo.
Químicos
- C e N orgânicos;
- pH;
- Condutividade elétrica;
- N inorgânico (NH4 e NO3);
- P e K;
- Mineralogia.
Biológicos
- Biológica biomassa microbiana (C e N);
- N e C mineralizável;
- Respiração do solo, simbiose (rizóbio, micorriza);
- Relação de fungo bactéria;
- Dinâmica da água.
O estado da superfície do solo indica o grau de estabilidade da estrutura e conservação do solo.
É com um diagnóstico da superfície e subsuperfície (0-20 cm e 20-40 cm) que você poderá avaliar se ele suportará o impacto das chuvas, aquecimento e ressecamento pelo sol, pressão das máquinas ou pisoteio dos animais.
Para você ter uma ideia da importância do tipo de solo na produção, na fazenda onde trabalhei, em 3 metros de distância (dentro do mesmo talhão), tínhamos diferentes resultados em milho conforme o tipo de solo, como na foto abaixo:
(Fonte: Arquivo pessoal da autora)
O que é um solo argiloso?
Também conhecido como “solo pesado”, o solo argiloso é composto por mais de 30% de argila.
Primeiro, é importante entendermos melhor o que é a argila: uma partícula de rocha com tamanho inferior a 2 µm (micrômetros). Ou seja, um cristal de rocha, bem menor que um grão de areia.
E, dependendo da quantidade desse tipo de material, ele interfere em características do solo. A argila promove estabilização química e proteção física do solo.
Características do solo argiloso
- Teores de argila acima de 30%;
- Solos profundos;
- Transição difusa entre camadas A e B, com formação de grãos pequenos e compactos;
- Quantidades de óxidos de ferro e alumínio;
- Maior capacidade de retenção de água, mas não necessariamente essa água está mais disponível para as plantas em crescimento;
- Mais resistente à erosão;
- Maior possibilidade de compactação.
Outra característica importante desses solos é que, quando o teor de argila é muito alto, e após a chuva intensa, o solo pode ficar encharcado rapidamente.
Tal situação compromete a circulação do ar entre os poros, prejudicando o desenvolvimento da planta.
Diferentes tipos de argila
Existem dois tipos principais de argilas que é importante que você conheça: a argila 1:1 e 2:1. Elas fazem diferença no tipo aptidão do solo e nos manejos que você pode conferir a eles.
Os principais argilominerais 1:1 são: caulinita, gibbsita, goethita e a hematita. Elas são compostas por argilominerais organizados estruturalmente em uma camada de tetraedros de silício, seguida de uma camada de octaedros de alumínio.
Os principais argilominerais 2:1 são: esmectita e vermiculita. Elas são compostas por argilominerais estruturalmente formadas por uma camada de octaedros de alumínio entre duas camadas de tetraedros de silício.
Solos com argila 2:1 possuem maior CTC pelo arranjo estrutural que permite maior entrada de água e nutrientes nas entrecamadas, promovendo uma alta saturação por bases e ótima fertilidade natural.
E ele interfere de forma geral na fertilidade do solo. No blog, nós mostramos como realizar a gessagem de acordo com o teor de argila do solo. Confira: “Gesso agrícola: como utilizar da melhor forma e elevar a produção”
Coloides em solo argiloso
Coloides são os principais responsáveis pela atividade química do solo.
Em geral, os coloides argilosos excedem o número de coloides orgânicos do solo. Todos os coloides apresentam uma carga negativa, ou seja, eles podem reter ou atrair cargas positivas.
Potássio, sódio, hidrogênio, cálcio e magnésio possuem carga positiva.
Atração dos cátions pelos colóides do solo; ânions são repelidos / (Fonte: Nutrição de safras)
3 dicas para melhorar seu manejo em solo argiloso
Avaliação da umidade
O solo argiloso faz bem o serviço de acumular água. Por isso, é importante avaliar o grau de umidade para as operações mecânicas que serão realizadas neste solo.
Poucas culturas gostam de solos inundados, exceto o próprio arroz irrigado.
Infiltração de 75 mm de chuva (ou água de irrigação) num solo, conforme textura / (Fonte: Adaptado do Manual do Solo Vivo, Ana Primavesi)
É importante avaliar questões como a necessidade de criação de drenagem ou até mesmo terraceamento dependendo da área.
Conheça sua CTC
Os teores de argila interferem nos diferentes tipos de solos.
Em geral, solos argilosos possuem alta capacidade de troca catiônica (CTC), além de baixo potencial de lixiviação.
A CTC das argilas atuam também muito positivamente em:
- Adsorção de metabólicos tóxicos;
- Adsorção de antibióticos;
- Imobilizam cátions orgânicos;
- Catalisam síntese não biológicos;
- Protegem os micróbios fisicamente;
(Fonte: Manual Internacional de Fertilidade do solo)
(Fonte: Lavoura10 adaptado de Reinert e Reichert)
Dinâmica dos elementos no solo argiloso
Algo importante de se lembrar é que a quantidade de nutrientes presentes no solo não indica necessariamente que eles estejam ou não disponíveis.
O fósforo, por exemplo, se movimenta menos em solos argilosos, sendo que somente se movimenta nesse cenário por intemperização dos minerais ou por adubação.
A classe de fertilidade é determinada pela porcentagem de argila ou pelo P-remanescente (capacidade de adsorção de P do solo, isto é, o quanto do P aplicado é retido pelas argilas do solo).
A lixiviação de sulfato é menor nos solos argilosos. Possuem menos problemas de deficiência de cobre. Em geral, também possuem maior quantidade de zinco.
Tipos de solo argiloso no Brasil
Argissolo
Solo com maior teor de argila nos horizontes superiores, com presença predominante de argilas de atividade baixa (caulinita) e/ou óxidos. Aproximadamente em 25% da superfície do território brasileiro se encontra esse tipo de solo.
(Fonte: Embrapa)
Chernossolo
É um solo rico em argila e matéria orgânica no horizonte superficial, com predominância de argila 2:1. São férteis e ocupam 0,5% do território nacional.
(Fonte Embrapa)
Nitossolo
É um solo com boa presença de argila em todo o perfil em profundidade. Esse tipo de solo, conhecido pelo nome terra roxa. É mais comum nos estados do Sul do país, mas também pode ser encontrado em São Paulo.
São considerados ótimos solos para a atividade agrícola. Mesmo argilosos, são profundos, bem drenados, estruturados e moderadamente ácidos.
(Fonte: Embrapa)
Vertissolo
São os solos formados de, aproximadamente, um terço de argila. Possuem uma boa fertilidade química, relacionados aos calcários e sedimentos argilosos ricos em cálcio, magnésio e rochas básicas, mas apresentam problemas de natureza física, como baixa permeabilidade.
Solos que recebem mais calagem produzem mais resíduos das culturas /(Fonte: Embrapa)