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Plantadeira totalmente autônoma é possível no Brasil?

José Roberto Assy*

Estamos no início da época de plantio, e agricultores sonham com plantadeiras autônomas, capazes de plantar dia e noite, com alta precisão e demandando menor mão de obra! Sonho impossível? É razoável pensar que chegaremos lá em 20 anos, mas o percurso dessa caminhada pode ser bem proveitoso e lucrativo, e já começou! Preparado?

Diversas empresas ligadas a tecnologia de plantio espalhadas pelo mundo afora, inclusive Brasil, focam seus esforços de pesquisa no desenvolvimento de produtos que adicionem alguma autonomia ao plantio. Pode ser um dosador de sementes que não necessita de regulagem, um acionamento elétrico que obedece à um mapa de plantio ou um simples sensor de adubo de alta responsividade, tudo ajuda. Por exemplo, Michael Horsch, fundador da Horsch, fabricante alemã de máquinas agrícolas, me confidenciou que trabalha num software para monitorar pisoteio de máquinas autônomas.

A americana Precision Planting, investe num seed firmer mais inteligente, capaz de ler umidade e matéria orgânica do solo, e fazer os ajustes necessários, Dustin Kauffman, gerente executivo me explicou que são o braço tecnológico da AGCO, combinação interessante, um competidor respeitado. Joe Basset, CEO da Dawn Equipement, me revelou que dedica a maior parte de seu tempo na busca da automação, e já disponibiliza um controle de profundidade automático remoto para plantadeiras. A brasileira J. Assy investe em um dosador de adubo inteligente e auto limpante, também no monitoramento e controle wireless das rodinhas fechadoras do sulco de plantio e ainda em um sistema de alta velocidade para os trópicos, entre outros projetos ainda confidenciais.

Mas, qual a tendência de tudo isso? Bom, automatizar os modelos atuais de plantadeiras, cada vez maiores, parece uma tendência irreversível, mas tem limites, e pode não ser o fim da linha. Reduzir a mão de obra envolvida nessa operação, facilitar e otimizar o trabalho no dia a dia da fazenda, e aumentar a precisão das regulagens, são vantagens que podem ser alcançadas com plantadeiras cada vez maiores e cada vez mais automatizadas. Outra vantagem é diminuir a compactação do solo: pode-se programar o trafego agrícola e os tratores autônomos são mais leves, pois não precisam carregar acessórios que geram conforto ao operador, o que ajuda também.

Essa automação vai acontecer da noite para o dia? Automação envolve softwares, mas fundamentalmente também estruturas físicas que devem ser testadas a exaustão até estarem aptas para ir a mercado. Não é um processo rápido, experiência própria! Cada novidade pode ser um passo a mais na automação, facilitando mais e mais a operação até que um operador possa, finalmente, administrar mais de uma plantadeira, muitos apostam nessa realidade em menos de 10 anos.

E os desafios a vencer? Quem hoje não tem pelo menos um sensor de semente, um piloto automático ou computador de bordo na cabine do trator? Para o agricultor brasileiro o desafio já se faz presente, capacitar a mão de obra para operar esses equipamentos. Certamente o maior de todos os desafios! No Brasil as plantadeiras autônomas reduzirão a quantidade de pessoas envolvidas no processo, mas exigirão muito mais capacitação e responsabilidade.

Desafio ou oportunidade? Plantadeiras dependem das condições de solo e clima, os sensores e atuadores podem ser significantemente diferentes para cada região.  Na América do Norte temos plantio convencional, baixas temperaturas e alta umidade, já no Brasil predomina plantio direto na palha, calor e safrinha, respostas iguais?

Esta é uma oportunidade e desafio para empresas brasileiras inovadoras! Do que adianta automatizar uma máquina se a manutenção ainda for alta? Fabricantes vão ter que subir a régua da qualidade para entrar nesse mercado, grande oportunidade.

A cada ano vão surgir novidades na automação de plantadeiras, num ritmo não tão rápido como gostaríamos, mas que em curto período oferecerão um pacote irrecusável de tecnologias. Ao agricultor cabe o papel de se adaptar a essa nova realidade, sob o risco de perder o bonde da modernidade e às empresas cabe entender as particularidades da agricultura brasileira e surfar na sede de tecnologia do agricultor brasileiro.

Fica claro que o agricultor tem um protagonismo aqui, contratar e treinar pessoas para esse desafio, e das empresas inovadoras espera-se tecnologias para aplicação imediata, integradas ao máximo entre si e que no futuro próximo comporão o pacote da plantadeira autônoma.

O otimismo é grande, os benefícios para o dia a dia da atividade empolgantes, o produtor de leite não precisa mais acordar as 4 da manhã para tirar leite, após a automação, as mesmas facilidades vão vir ao agricultor, e tudo isso já começou! Aperte os cintos e boa viagem!

E plantadeiras pequenas, de 4 a 5 linhas totalmente autônomas, que permeiam nossas mentes criativas, algum dia chegarão ao mercado? Após essa primeira fase, onde as plantadeiras atuais recebem cada vez mais tecnologia para automação, saltar para plantadeiras pequenas e autônomas pode ser bem mais simples. Mas isso é assunto para outro artigo!

*Engenheiro agrônomo, fundador da J.Assy e Consultor em Agronegócio. 

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