Resistência da planta daninha a herbicidas na Campanha gaúcha foi identificada em 2018 e vem preocupando sojicultores
Uma parceria firmada entre a Embrapa Pecuária Sul e a empresa Três Tentos Agroindustrial está buscando avançar no conhecimento sobre a planta daninha conhecida como caruru, assim como propor soluções efetivas para o seu controle. Com resistência confirmada ao glifosato e outros herbicidas inibidores da enzima ALS no Sul do Brasil em 2018, a planta daninha é atualmente um dos problemas de maior risco aos sojicultores, uma vez que tem fácil capacidade de disseminação e causa prejuízos diretos às plantações.
Conforme a pesquisadora Fabiane Pinto Lamego, da Embrapa Pecuária Sul, o projeto em parceria já conta com estudos a campo, em casa de vegetação e também em condições de laboratório, visando aprofundar os conhecimentos sobre a planta daninha. “É uma planta que se não controlada cedo, ultrapassa a soja em estatura e acaba disseminando sementes na colheita da lavoura, exigindo estratégias integradas de manejo”, adianta a pesquisadora.
Experimentos
O primeiro experimento da parceria realizou justamente a confirmação da resistência de plantas da Campanha gaúcha ao glifosato, coletadas pela equipe do setor de PDI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) da Três Tentos. “É interessante observar que mesmo na dose 16 vezes maior do que a dose usual recomendada de glifosato, as plantas resistentes não foram controladas”, ponderou o pesquisador Marlon Ouriques Bastiani, da Três Tentos.
No estudo a campo, foram avaliados herbicidas aplicados em pré-emergência como opções alternativas ao glifosato. “A aplicação do glifosato em pós-emergência para o controle de plantas daninhas ocorrentes, associada à eficiência de pré-emergentes voltados ao caruru resistente, como as associações de diferentes mecanismos de ação herbicida (principalmente contendo herbicidas inibidores da Protox nessa mistura), garantiu o melhor resultado”, destacam os pesquisadores.
No laboratório, um estudo utilizando biotecnologia permite diferenciar espécies do gênero Amaranthus (caruru), bem como verificar a possibilidade de cruzamento entre elas (como por exemplo, Amaranthus hybridus, Amaranthus retroflexus e Amaranthus palmeri). Se confirmado o cruzamento, esta também é uma forma de disseminação da resistência.
Dicas para controle
A resistência múltipla de caruru a glifosato e também aos herbicidas inibidores da enzima ALS está disseminada principalmente na região da Campanha do RS, requerendo alternativas para contenção do problema. Nesse sentido, os pesquisadores apontam que, além da adoção de herbicidas pré-emergentes e/ou pós-emergentes eficientes, é preciso evitar a produção de novas sementes da planta daninha, que irão incrementar o banco de sementes para a próxima safra. Ainda, é necessário cuidados na limpeza de maquinários utilizados em áreas diferentes, que poderão carregar e proporcionar disseminação de sementes.
“A prevenção sempre é mais barata. Cuidados com a origem da semente adquirida para uso na propriedade, especialmente quando da implantação de pastagens ou alguma planta de cobertura no inverno, são fatores importantes, evitando contaminação por sementes de caruru e outras plantas indesejadas”, destacou Fabiane.
Conforme os pesquisadores, o produtor deve ficar atento sempre. Ao observar alguma planta sobrando após o controle com herbicida, é importante realizar a coleta na área e encaminhar a planta daninha para análise. “O desafio de manejar a resistência aos herbicidas está em delinear sistemas produtivos e fugir das monoculturas, sejam elas no inverno ou no verão”, afirma Fabiane. “Aliada à implantação de plantas de cobertura ou pastagens no inverno, é importante a manutenção da palhada para a semeadura da cultura de verão, pois ela tem potencial em reduzir a emergência de plântulas de caruru, conforme diagnosticado no campo”, finaliza Marlon.
Fonte: Embrapa Pecuária Sul Por Felipe Rosa