A prática do conceito de sustentabilidade econômica, social e ambiental não passa apenas pelas paisagens rurais brasileiras e suas ofertas de alimentos, fibras, biomassa, energia limpa renovável e produtos florestais resultantes das atividades agrossilvipastorís desenvolvidas pelos agricultores familiares, médios e grandes empresários do agronegócio.
Pode-se-ia aceitar que exige um esforço coordenado dos governos, lideranças urbanas e rurais, políticas públicas, logísticas, entre outras, fundamentais à sustentabilidade das cidades e populações urbanas devidas às taxas de urbanização. Em 1950, a população brasileira era de 33,1 milhões de habitantes, dos quais 63,48% viviam nas zonas rurais. Estimo que a urbanização seja hoje de 85%-90%.
A tese da volta em massa para o campo não tem nenhuma sustentação, assim como o fim da “Era do Petróleo” não desaparecerá por decreto, e mesmo considerando-se as fontes renováveis de energia limpa. O tempo continuará sendo o “Senhor da História.”
Entretanto, os cientistas e pesquisadores, entre os quais os climatologistas, admitem que estaríamos vivendo na “Era do Homem” por sua capacidade e determinação de interferir nos processos da vida humana, animal, vegetal, e acelerando dilapidação dos recursos naturais.
Além disso, aumentam as exigências acerca da qualidade e rastreabilidade dos alimentos, in natura e processados, no sistema agronegócio brasileiro, que são decorrentes de exigências legais da saúde pública nesse viger do século XXI e seus impactos ambientais. Os agropecuaristas são indissociáveis dessa marcha rumo ao futuro presumível nos mercados interno e externo.
São milhares de condicionantes que devem ser atendidas nos cenários de campo, constituindo-se numa tarefa hercúlea e demandando muita Ciência & Tecnologia, e eficiente gestão de negócios, e os alimentos brasileiros estão também submetidos aos padrões de qualidade internos e externos, via análises tecnológicas!
Entretanto, numa conjuntura de tamanha complexidade econômica, social e ambiental, e que abrange 195 países do mundo, entre ricos, emergentes e pobres, como regra geral, não se colocarão as mudanças, sejam elas quais forem, sobre os ombros exclusivamente dos produtores rurais; a sustentabilidade passa também pela renda rural suficiente, e eles devem receber por serviços ambientais prestados à sociedade.
Além disso, uma visão positiva urbana acerca das múltiplas atividades agropecuárias no campo é fundamental; pois, considerável parte do poder de decisão migrou para as cidades por várias razões numa série histórica! E mais, existe um apreciável e complexo elenco de deveres ligados à sustentabilidade, que demandará também ser assumido por quem vive nas cidades e dependendo do agronegócio!
Apenas um exemplo prático, entre outros; a gestão da água aplica-se também para a agropecuária, produtos florestais, indústrias diversas, agroindústrias, comércio, serviços, abastecimento domiciliar, como também na geração de energia hidrelétrica para múltiplos usos.
As perdas de água tratada no abastecimento urbano varia de 8% a 24% nos países desenvolvidos; e de 25% a 45% nos em desenvolvimento. No Brasil, média geral é de 39% (Malcom, 2001). Recomenda-se um mínimo de 115 litros de água tratada per capita dia para uso humano (ONU). O leite de vaca tem 86% de água; batata, 80%; laranja, 89,6%; tomate, 94%; carnes, 60% em média; corpo humano, 70%.
A agricultura irrigada ocupa apenas 8,2 milhões de hectares numa área de plantio de 77 milhões de hectares ou 10,5%, e os restantes 89,5% das lavouras dependem diretamente do regime de chuvas.
A redução dos desperdícios deveria ser globalizante, e sem subestimar a educação ambiental em todos os níveis educacionais. Noutro cenário, não menos importante, circula que a agricultura gasta muita água. A água usada na agricultura volta à dinâmica do “Ciclo hidrológico,” que não deixa ser um “insumo” econômico, social, ambiental e essencial à vida humana, animal e vegetal.
O Brasil será um valioso parceiro mundial na oferta de alimentos e nos esforços para reduzir associativamente os efeitos adversos das mudanças climáticas, e muito além da Amazônia, contudo, sendo ela emblemática e estratégica nos cenários internacionais. Além disso, dominamos centenas de boas práticas geradas pela pesquisa agropecuária, florestal, e adotadas pelos produtores nos cenários rurais, incluindo-se o Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC/Mapa), plantio direto, biotecnologias, biodefensivos, manejo do solo, controle integrado de pragas e doenças, gestão dos recursos hídricos, gestão para resultados, entre outros sistemas tecnológicos.
Por: Benjamin Salles Duarte*/ Engenheiro agrônomo – março/23