Recentemente, algumas empresas vêm lançando linhas de leite UHT (leite de caixinha) sem nenhum tipo de aditivo. Em função da forma como o marketing desses produtos vem sendo feito, vários consumidores têm nos procurado, com muitas dúvidas, sendo a principal delas relacionada à presença de conservantes no leite. O objetivo desse artigo é esclarecer essas dúvidas e mostrar que o leite que já estamos acostumados a consumir continua sendo o mesmo alimento seguro que sempre foi.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
O primeiro ponto a ser esclarecido é que a legislação brasileira não permite a adição de nenhum tipo de conservante ao leite. Se isso ocorrer, caracteriza-se crime de fraude. Portanto, nenhum leite tem conservante!
O Longa Vida ou UHT, consagrou-se como uma alternativa altamente segura e confiável para o consumo de leite no Brasil. Apresentada ao país em 1972, a tecnologia que prolonga a vida do leite dispensa qualquer utilização de conservante, pois a composição da caixinha preserva as qualidades naturais do produto. Sem a proteção do ambiente asséptico da caixinha, o Longa Vida está sujeito à deterioração comum a qualquer outro leite.
O Longa Vida é resultado da ultrapasteurização, obtida a partir da aplicação de ultra alta temperatura (daí seu nome UHT), entre 130°C e 150°C, por um período de 2 a 4 segundos e, em seguida, resfriado a temperatura ambiente. Esse tratamento garante a eliminação de todos os microorganismos, tornando-o um alimento altamente seguro para consumo.
A única substância acrescentada ao leite nesse processo é um aditivo, o citrato de sódio, um composto orgânico já presente na composição do leite natural, que garante a estabilidade (proteção) das proteínas durante o processo de ultrapasteurização. Estabilizantes são aditivos, não tendo a função de conservantes. O Leite Longa vida, portanto, não tem conservantes.
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde) define aditivos alimentares da seguinte forma: substâncias adicionadas aos alimentos sem o propósito de nutrir, mas com o objetivo de modificar ou manter as características físicas, químicas e biológicas ou sensoriais desses produtos.
Segundo Airton Vialta, Pesquisador e Assessor Técnico do ITAL, “é importante esclarecer que a utilização de aditivos alimentares no processamento é uma questão de necessidade e não de escolha das empresas”, destaca. O número de aditivos empregado em um determinado produto depende de vários fatores, sendo os principais suas características intrínsecas, a quantidade de ingredientes que o compõe e o tipo de processamento e embalagem utilizados.
O citrato de sódio, único aditivo permitido no leite UHT, é um estabilizante natural cujo emprego em alimentos está previsto no Codex Alimentarius, conjunto internacional de normas que tem como signatários a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo aceito pelo Food and Drugs Administrations (FDA), dos Estados Unidos, e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde – Anvisa, do Brasil.
“Todos os aditivos utilizados na formulação dos produtos devem estar listados nos rótulos. Normalmente, sua descrição é precedida do grupo ao qual pertence.
Para o Diretor Geral do ITAL, Luis Madi, se de um lado há dúvida, do outro há oportunidade de esclarecer o consumidor. “Todos estão preocupados e interessados em saber o que comem, como é feito o alimento, o que é usado. Isso é fantástico porque deve ser uma preocupação do brasileiro. O importante é que hajam fontes confiáveis para as pessoas buscarem informações, com base em pesquisa e ciência”, alerta.
E os leites sem aditivos?
Em função de uma característica específica, que é a proximidade entre as fazendas e os laticínios, algumas empresas têm lançado leites sem inclusão de citrato de sódio. Isso é possível quando o leite é transportado por curtas distâncias, possibilitando seu processamento térmico, em geral, em um período entre 24 e 48 horas após a ordenha. Com isso, as proteínas se mantém estáveis, não necessitando de estabilizante.
Em função do tamanho de nosso país, da dificuldade de acesso à grande parte das fazendas produtoras de leite, o UHT cumpre um importante papel, permitindo a chegada de um produto seguro à mesa de brasileiros que estão distantes dos grandes centros. Por isso também, a utilização do citrato de sódio é fundamental, assegurando que as proteínas de excelente qualidade não sejam perdidas durante seu processamento e estejam disponíveis em cada copo de leite consumido.
Em termos nutricionais, não existe nenhuma diferença entre leites UHT com ou sem citrato de sódio. Mas, se ainda assim, você prefere consumir produtos sem nenhum tipo de aditivo, é bom saber que existem opções disponíveis no mercado.
Informação é poder!
Os mitos fazem com que os consumidores deixem de comprar alimentos seguros e de qualidade por acharem, equivocadamente, que eles trazem algum prejuízo à saúde, ou comprem produtos em busca de um benefício inexistente, inclusive pagando mais caro por isso.
Assim, o mais importante é que a escolha seja feita com base em informações confiáveis, pois a nutrição é uma ciência, não um ponto de vista.
* Flávia Fontes é Médica Veterinária, DSc. Ciência Animal
Por Flávia Fontes*
Fonte: Beba Mais Leite