Por Ana Lígia*
O manejo inadequado ou falta de controle das ervas daninhas pode causar sérios prejuízos em nossas lavouras.
E isso impacta a produtividade, qualidade, sem contar os problemas na hora da colheita.
Acompanhe neste artigo as últimas atualizações com relação ao Amaranthus palmeri e ao herbicida dicamba, que vem gerando várias dúvidas e preocupações sobre a correta aplicação.
Principais informações sobre o herbicida dicamba
O dicamba pertence ao mecanismo de ação das auxinas sintéticas, mesmo mecanismo do 2,4-D, picloram, triclopyr, fluroxypyr e quinclorac.
Os herbicidas deste grupo são seletivos para gramíneas devido à baixa absorção pelas folhas e translocação limitada no floema.
Por isso, são importantes ferramentas no controle de plantas daninhas de folhas largas.
Entretanto, por não serem seletivos às culturas de folhas largas, como a soja, não podem ser utilizados.
Por isso, novas tecnologias, como a soja tolerante ao dicamba, foram desenvolvidas, como a “Intacta 2 Xtend”.
(Fonte: Conselho de Informações sobre Biotecnologia)
O dicamba apresenta como principal vantagem o controle de ervas daninhas de folhas largas (dicotiledôneas), além de vir associado à tolerância ao glifosato.
Logo, poderá ser um importante aliado para o controle de ervas daninhas resistentes ao glifosato, como a buva e o caruru.
Pode ainda ser eficiente para outras plantas daninhas de difícil controle como corda-de-viola, erva-quente e vassourinha-de-botão.
Ervas daninhas com relatos de resistência ao glifosato: Conyza sumatrensis (esquerda) e Amaranthus palmeri (direita)/ (Fonte: Heap, 2019)
Controle de ervas daninhas: Preocupação com o dicamba
A grande preocupação em relação ao uso deste herbicida está relacionada à deriva. A soja não tolerante ao dicamba, além de outras culturas, são muito sensíveis a este produto.
A recomendação é de que o dicamba não seja aplicado em condições climáticas como:
- Temperaturas superiores a 29°C;
- Umidade relativa do ar abaixo de 40%;
- Ventos acima de 16 km/h;
- Dias com inversão térmica.
Mas sabemos que, durante a safra, essa condição de temperatura é rapidamente atingida no campo, por isso a preocupação.
(Fonte: SC Cereais)
Com isso, entram em jogo as boas práticas agrícolas, que sempre devem ser utilizadas por nós.
Especificamente para o dicamba, são essenciais as práticas voltadas ao combate da deriva, volatilidade e limpeza dos pulverizadores.
(Fonte: Canal Agrícola)
Outro ponto importante é a capacitação de produtores com relação à
- Condições climáticas adequadas de aplicação;
- Uso de pontas de pulverização de baixa formação de deriva;
- Prática da limpeza de tanque para que não haja resíduo do produto após a tríplice lavagem;
- Momento adequado de controle das ervas daninhas (estádios iniciais).
Principais características do dicamba
Vamos ver agora alguma das principais características do herbicida dicamba, segundo o Guia de Herbicidas (2018).
- Mecanismo de ação: Mimetizador de Auxinas (Grupo O);
- Grupo químico: Ácidos benzóicos;
- Solubilidade em água: 4.500 mg/L (25°C);
- Pressão de vapor: 4,5 x 10-3 Pa (25°C);
- pKa: 1,87;
- Kow: 0,29;
- Koc: 2 mL/g (fracamente adsorvido no solo);
- Registrado para o controle de plantas daninhas de folhas largas em pré-plantio da soja e dessecação em pré-colheita;
- Absorção: folhas e raízes;
- Translocação: xilema e floema (sistêmico).
Outra erva daninha problemática e que traz grande preocupação é a Amaranthus palmeri. Sobre ela, falaremos a seguir:
Últimas notícias sobre ervas daninhas: Amaranthus palmeri
Amaranthus palmeri é uma planta daninha de crescimento rápido e muito agressiva. É uma erva daninha anual, com emergência no verão.
Foi identificada no Brasil em 2015, no estado do Mato Grosso, e, até então, todos os esforços são para que ela não se disperse para outros lugares.
Planta de Amaranthus palmeri em soja/ (Fonte: Travis Legleiter e Bill Johnson, 2013)
A principal questão sobre esta erva daninha é que, quando foi identificada, já apresentava resistência. Em 2016, estudos identificaram a resistência múltipla aos herbicidas Inibidores da ALS (chlorimuron, cloransulam e imazethapyr) e ao mecanismo de ação EPSPs (glifosato).
No mundo, existem 64 relatos de resistência desta erva daninha a herbicidas, englobando países como o Brasil, EUA, Israel, Argentina. A maioria dos casos está nos EUA (60).
No Brasil, pesquisadores relatam que o Amaranthus palmeri está relativamente controlado, mas requer ação contínua por meio de monitoramento, pois é uma planta de rápida disseminação devido à alta produção de sementes.
Preocupação com o Amaranthus palmeri
A grande preocupação com relação a essa erva daninha é impedir sua entrada pelas fronteiras da Argentina e Uruguai para a região sul do Brasil.
Isso porque, em 2015, foi relatado um caso de resistência desta planta daninha ao herbicida glyphosate na Argentina. Este, é o primeiro caso de resistência ao glifosato em Amaranthus palmeri envolvendo exclusivamente mecanismos de NTSR (resistência ao local não-alvo).
Além disso, já foi relatado um caso dessa planta daninha resistente ao 2,4-D nos EUA, um importante herbicida utilizado para seu controle.
O que vemos aqui é que, antes de utilizarmos apenas o manejo químico desta planta daninha, temos que fazer a lição de casa:
- Limpar máquinas e implementos agrícolas, evitando a disseminação de sementes;
- Fazer rotação de mecanismos de ação de herbicidas;
- Rotação de culturas;
- Diversificar as práticas de manejo;
- Controle de plantas daninhas nos estágios iniciais: evite deixar que ela se reproduza no campo.
Plântula de Amaranthus palmeri / (Fonte: Travis Legleiter e Bill Johnson, 2013).
Quer entender mais sobre o manejo dessa erva daninha? Recentemente publicamos no blog o “O guia completo do manejo do caruru Amaranthus palmeri”. Confira!
Conclusão
O manejo correto das ervas daninhas e de herbicidas é essencial para o sucesso da lavoura.
E no artigo de hoje vimos as principais notícias sobre o dicamba e o Amaranthus palmeri.
Com relação ao herbicida dicamba, a principal preocupação está ligada à deriva do produto. E as boas práticas agrícolas são essenciais para utilizar a nova tecnologia associado ao uso deste herbicida.