Objetivo é propor um conjunto de medidas que contribua para que o Brasil aumente a produção de fertilizantes e reduza a dependência externa de produtos e tecnologias
O Governo Federal criou um grupo de trabalho interministerial com o objetivo de desenvolver o Plano Nacional de Fertilizantes. A proposta pretende aumentar a produção e consequente oferta de fertilizantes nacionais (adubos, corretivos, condicionadores), além de reduzir a dependência dos produtos importados e ampliar a competitividade do agro no mercado internacional. A Embrapa será representada no GT pelo pesquisador José Carlos Polidoro, da Embrapa Solos, especialista em Ciência do Solo.
Os trabalhos do GT começarão em 15 dias, assim que for publicada a nomeação dos componentes. O principal desafio é tornar o País autônomo na produção e no desenvolvimento de tecnologia de fertilizantes. “O Brasil importa em torno de 80% dos fertilizantes que consome. Além disso, quase toda a tecnologia disponível no País para produção e aumento de eficiência dos fertilizantes no campo não é brasileira”, detalha Polidoro.
Ele ressalta que Rede FertBrasil, criada em 2009 e liderada pela Embrapa, foi o marco que contribuiu para que haja alguma inovação nacional no setor. “São vários exemplos nacionais que nos estimulam e animam a entender que o Brasil pode ter uma autonomia tecnológica nesse setor”, diz.
Polidoro explica que o fertilizante é um insumo fundamental para a produção agrícola, florestal e pecuária. Por isso, com duas safras por ano, o Brasil necessita de maior autonomia na produção do insumo. “É uma questão de segurança nacional, pois o plano vai trazer a segurança de ter um insumo fundamental em momentos de crise, principalmente”, afirma. Ele lembrou, por exemplo, que nos anos 2008/2009 ocorreu uma crise internacional de fertilizantes e o preço do produto triplicou, o que aumentou o custo dos alimentos.
“Outra contribuição da construção de um plano é estimular o desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao Brasil. Os produtos que importamos foram desenvolvidos por países que possuem clima temperado, o que nos leva a uma baixa eficiência de uso dos nutrientes provenientes desses fertilizantes”, afirma.
De acordo com o pesquisador, um exemplo da capacidade brasileira é a produção de fertilizantes orgânicos e organominerais a partir de resíduos orgânicos. “Quase 20% da demanda de fertilizantes importados poderia ser suprida com fertilizantes à base de matéria prima nacional, de resíduos da cadeia do agro”, acrescenta.
Segundo Polidoro, o País é o maior importador de fertilizantes, principalmente de nitrogênio, fósforo e potássio. “Apesar de ser um dos maiores consumidores, o Brasil não está entre os 10 maiores produtores do mundo, e o resultado é uma importação que chega a 80%”, explica. Por outro lado, ele ressalta que a cadeia de distribuição dos insumos é bastante estruturada, um ponto positivo para a construção do Plano Nacional de Fertilizantes. “A estrutura e a logística são fundamentais”.
O GT para construção do plano terá 90 dias de duração a partir da primeira reunião. O prazo pode ser prorrogado pelo mesmo período.
De acordo com Cynthia Cury, gerente de Relacionamento Institucional e Governamental, da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Grig/Sire), a participação da Embrapa mostra o reconhecimento do papel estratégico da pesquisa agropecuária na contribuição às políticas públicas. Para Jefferson Costa, pesquisador da Sire e coordenador do relacionamento com as Câmaras Setoriais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o espaço para compor o GT é um dos desdobramentos da atuação nas câmaras e com o setor produtivo.
“O relacionamento institucional com os diversos ministérios e órgãos envolvidos irá possibilitar que os resultados da pesquisa qualifiquem as decisões, especialmente nas etapas de formulação e implementação”, afirma.
Ao final do prazo, o Plano Nacional de Fertilizantes será encaminhado ao secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Creditos: Djalma Martinhão
Fonte: Embrapa