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Descompactação: melhoria da qualidade do solo depende de diagnósticos integrados

A produtividade de sua lavoura está limitada pela compactação do solo? Será que o problema pode ser somente em uma parte da área? Não há outra forma de melhorar aos poucos a qualidade do solo? Se revolver o solo sem critério em pouco tempo, após a descompactação, o problema não voltaria? São muitos questionamentos que podem trazer dúvidas ao produtor rural.

Existem tecnologias para atingir patamares de 80 sacas/hectare, 90 sc/ha, 100 sc/ha, mas a compactação pode ser um entrave. Um correto diagnóstico da condição do solo é o primeiro passo e a ação deve ser certeira, como diz o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Júlio Cesar Salton, para que as decisões e práticas recomendadas sejam mais eficientes.

Na foto ao lado, há duas situações discrepantes, que podem estar lado a lado na propriedade. Em experimento realizado na área da Embrapa Agropecuária Oeste, as condições originais de solo eram idênticas, porém com manejo diferente ao longo do tempo. No lado esquerdo da imagem acima, a amostra de solo é de sistema convencional, com monocultivo, inexistência de rotação, ausência de plantas de cobertura e com revolvimento do solo. Já no lado direito da foto, a amostra é de uma área de integração lavoura-pecuária (ILP), em que a soja se alterna com a braquiária em ciclo de dois anos, com dinâmica totalmente diferentes

A amostra do lado esquerdo da foto é um bloco de solo com aspecto maciço, em que quase não se vê porosidade. Vê-se uma raiz tentando se desenvolver, com formato achatado, com dificuldade em ocupar espaços. “Imaginando uma planta de soja, ela terá dificuldade para se abastecer de água, sorver os nutrientes e de manter todas as relações com o ambiente em que está inserida”, diz Salton. No lado direito da imagem, existe uma massa abundante de raiz, muitos agregados soltos, muitos poros e canais, ou seja, um ambiente propício para o desenvolvimento das raízes e para a vida no solo. A expectativa, nessas condições, é de melhor produtividade das culturas.

Em condições de uma lavoura suportar situações adversas, como veranico, por que algumas plantas apresentam sinais de estresse e outras não? “É bem claro que a absorção de água e o volume armazenado no solo é diferente nessas duas condições. Entre essas duas situações, existem as intermediárias, que se acredita serem as mais frequentes. É preciso se perguntar que tipo de manejo eu estou adotando o sistema, estou indo para que lado? Para recuperação ou para degradação? É necessário buscar as respostas para que o produtor possa direcionar suas práticas, como, por exemplo, comparar as safras passadas para saber se a atual está evoluindo ou involuindo.

O importante é fazer o diagnóstico de forma correta. À medida que temos um diagnóstico eficiente, podemos propor soluções para uma condição ótima. É a chave desse processo. Dispomos de boas ferramentas, inclusive de uso simples, de baixo custo, como o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES), que é uma metodologia de observação da estrutura do solo, que, por meio de notas que vão de 1 a 6, permite comparações entre talhões, e a comparação dos sistemas ao longo do tempo. É detectado visualmente em amostras dos primeiros 25 cm de solo.

“Não basta um único método. Muitos usam penetrometria, mas pode ser que tenha limitações – de forma isolada, o penetrômetro pode não dar certeza do diagnóstico. As análises química, física e biológica são importantes. Para a de cunho biológico também já se dispõe de metodologia de forma rotineira assim como a química. Isso tudo nos ajuda a responder essas questões. O que vamos fazer? Apenas usar raízes plantas de cobertura, como por exemplo, de braquiária, será suficiente para recuperar o solo? Ou será necessário intervir mecanicamente, por meio de uma escarificação?) São questões que não são respondidas de forma única”, afirma o pesquisador Salton.

Compactado ou não compactado?

“Hoje, a questão da compactação é bastante discutida. Produtores com bastante dúvida, sem ter certeza de como está o solo, se o estado de compactação da área dele está atrapalhando”, comenta Henrique Debiasi, pesquisador da Embrapa Soja (Londrina, PR). Um solo mais desagregado é altamente suscetível à erosão e ao impacto de máquinas. Se houver chuva de longa duração, o solo vai saturar. Imagine uma colhedora com mais de 20 toneladas de peso? Haverá compactação grande. A retenção de água é diminuída e e um solo argiloso passa a se comportar como arenoso. Há probabilidade de perder produtividade, mesmo em estado de compactação muito baixa.

“Um solo com alto grau de compactação sempre apresenta baixa qualidade estrutural, mas um solo pouco compactado nem sempre apresenta alta qualidade estrutural”, afirma Debiasi, complementando ao dizer que “a fertilidade física do solo pode ser degradada por compactação, adensamento e desagregação, o que pode levar a erros de diagnóstico e de recomendação, já que fertilidade física do solo é mais amplo do que a compactação”.

Segundo Debiasi, entre as causas da degradação física estão o tráfego intenso sob condições de solo plástico, manejo inadequado da pastagem, operações de preparo do solo desnecessárias, correção inadequada da fertilidade química do solo e “herança” do preparo convencional (pé-de-arado, pé-de-grade). Já as causas da degradação da fertilidade biológica são a baixa diversificação de culturas, com aporte insuficiente de palha e raízes, e mobilização do solo.

As perdas de produtividade não acontecem somente em solos compactados, mas também em solo solto, por ter armazenado pouca água. A perda é menor solo solto e pode se pensar em intervenção mecânica. Quando se fala em manejo mecânico (escarificação), esta operação trata-se de uma prática corretiva que deve ser adotada em casos comprovadamente graves. Não deve ser realizada a intervalos regulares, sem diagnóstico da necessidade. O grande problema da escarificação é que se o sistema de produção não for mudado, o solo vai compactar com maior profundidade, ficando pior que antes. Como diagnosticar? Tem que integrar métodos. Conhecer a variabilidade espacial da área e verificar com algum método quantitativo.

É preciso considerar a necessidade de correção de acidez superficial, a variabilidade espacial do estado de compactação. “Sempre associada a práticas biológicas, porque são as plantas que recuperam o sistema. Pode ser executada simultaneamente ou após a semeadura da cobertura”, enfatiza o pesquisador da Embrapa Soja.

Além do estado de compactação, a resistência mecânica à penetração (RP) depende de umidade (2 a 3 dias após chuva), presença de raízes, resistência de agregados, textura e mineralogia. De acordo com Debiasi, conforme resultados de trabalhos realizados no Paraná, os limites críticos na avaliação quantitativa do estado de compactação em solos arenosos são, em preparo convencional, 2,0 MPa; e em solos argilosos, em Sistema Plantio Direto (SPD) consolidado é de 2,5 MPa a 3,0 MPa. Mas deve-se ter cuidado ao usar esses limites, pois eles variam em função de outros fatores.

“É preciso conhecer a realidade da propriedade em diferentes talhões e ver quais áreas precisam de melhorias. E isso é feito com um bom diagnóstico, físico, químico, biológico, em conjunto”, reforça o pesquisador Debiasi.

Consórcio de plantas

A grande forma de se construir a fertilidade física é o manejo biológico, é colocar raiz e material orgânico no sistema.  “O ponto mais crítico é o volume de raízes. Depois é realizada a regulagem mais fina, trazendo outras melhorias. No início da recuperação do solo, podemos usar alternativas mais simples para fazer manejo das plantas. Em caso de nematoides, são indicadas as crotalárias. Ao ter o domínio da situação, passa-se a usar diferentes espécies para o mix de plantas”, aconselha Salton.

Debiasi concorda com Salton: “A diversidade biológica do solo é a maneira mais viável e tecnicamente eficiente para se realizar manejos diferentes. O primeiro passo é dar atenção à raiz da planta. Raízes abrem canais, esse material se decompõe e é fonte de nutrientes, principalmente de cálcio. Quando for o momento de aplicar o mix de plantas, é preciso pensar no uso de espécies com ciclos diferentes, com raízes diferentes. Taxa de crescimento, contraste de duração de ciclo e densidade de semeadura são essenciais”. Um exemplo é o consórcio triplo: milheto, nabo forrageiro e Crotalaria ochroleuca.

ILP

Ainda há quem pense que a presença dos animais, no sistema ILP, compacte o solo, devido ao pisoteio, mas o manejo dos animais e da pastagem impede que a compactação aconteça. Salton explica que os talhões podem ser organizados de tal forma que não se formem caminhos dos animais e, consequentemente, sulcos. É uma estratégia que caminhem em nível. Existem até mesmo cochos móveis, dependendo do período da distribuição de águas. A presença do gado pode ser aspecto positivo à medida que a braquiária esteja sendo pastejada, ao emitir novos perfilhos há emissão de novas raízes. Com isso, está sendo ativada uma boa estrutura do solo devido às raízes da pastagem.

Quanto a escolha da forrageira, as braquiárias, de modo geral, possuem mais raízes. Entre elas, as braquiárias brizantha têm raízes mais vigorosas. “Mas se o objetivo for só de cobertura, o manejo com a [braquiária] brizantha pode ser mais complexo do que a [braquiária] ruziziensis”, explica Salton.

Live no YouTube

Para assistir as discussões referentes ao tema, foi realizada uma Live no dia 26 de junho de 2020, pela manhã, com os dois pesquisadores, moderada por Rodrigo Arroyo Garcia, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste. A live foi organizada em uma parceria entre Embrapa Agropecuária Oeste e Embrapa Soja.

Fonte/Crédito: Embrapa Agropecuária Oeste Por Sílvia Zoche Borges

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