No Brasil, o maior e mais extraordinário desafio a ser enfrentado pelo Plantio Direto é sua conversão em Sistema Plantio Direto. Contudo, esta conversão depende da viabilização econômica da diversificação de culturas, em sistemas de produção exclusivamente produtores de grãos. A diversificação de culturas é a regra primordial da agricultura conservacionista, capaz de converter Plantio Direto em Sistema Plantio Direto, pois é ela que viabiliza o abandono permanente do preparo de solo.
Na ausência do preparo do solo, com aração e gradagem, são as raízes das plantas as responsáveis pelo condicionamento do solo para a próxima semeadura. Portanto, a adoção do Sistema Plantio Direto requer diversificação de culturas, com inclusão de espécies de abundante sistema radicular, capaz de condicionar o solo para a safra seguinte. Neste sentido, culturas como cereais de inverno e de verão se destacam pelo farto sistema radicular que apresentam.
No Rio Grande do Sul, os sistemas de produção exclusivamente produtores de grãos, encontram dificuldade econômica para se diversificarem, sendo, a rigor, monocultivos. Esta condição induz à adoção do Plantio Direto em detrimento do Sistema Plantio Direto.
Em 2013, no Rio Grande do Sul, dos 7,14 milhões de hectares cultivados na safra de verão com espécies anuais produtoras de grãos, apenas 1,27 milhões foram cultivados na safra de inverno. Estes dados indicam que, no Estado, há 5,87 milhões de hectares com apenas uma safra agrícola por ano. Portanto, embora se aponte que, no Estado, a adoção do Plantio Direto seja da ordem de 5,78 milhões de hectares deduz-se que a adoção do Sistema Plantio Direto, ao exigir diversificação de culturas, não ultrapassa aos 1,27 milhões de hectares que recebem, pelo menos, duas safras por ano agrícola. Neste cenário, predomina o monocultivo de soja, a qual é desprovida de sistema radicular com qualidade e quantidade hábeis para manter o solo permanentemente sem preparo e prevenir, com eficiência, a degradação biológica e física do solo.
A adoção da diversificação de culturas em sistemas de produção exclusivamente produtores de grãos não depende apenas da decisão do produtor rural, à exceção de poucos. Depende de conjuntura política, econômica e ambiental, orientada à criação e ao desenvolvimento de novos mercados, com liquidez à comercialização de grãos. Neste sentido, a agricultura brasileira, propagada como de magnitude que evidencia o País como potência agrícola mundial, carece de modernização da logística de pertinência e fundamentalmente de incentivos à expansão e à diversificação da agroindústria, preferencialmente inserida no âmbito do cooperativismo agrícola. No Brasil e no Estado, há tecnologias prontas para o cultivo de inúmeras culturas, com potencial para diversificar os atuais sistemas de produção, puramente produtores de grãos. Entre estas culturas, há commodities com demandas nos mercados nacional e internacional, porém com problemas internos de comercialização e liquidez. O sorgo granífero e os cereais de inverno são exemplos que ilustram este cenário. Pode-se afirmar que o desenvolvimento, a inovação, a expansão e a diversificação atual da agroindústria nacional, que constitui mecanismo para criar e expandir mercados e oferecer liquidez à comercialização, não corresponde com a capacidade, a competência, a aptidão e o potencial da agricultura em desenvolvimento no País.
Assim, esse majestoso desafio a ser enfrentado pelo Sistema Plantio Direto em sistemas de produção exclusivamente produtores de grãos, requer instrumentos de cunho político e ambiental que viabilizem economicamente a diversificação de culturas. Destaca-se, entretanto que a diversificação de culturas nos sistemas integrados de produção, como integração lavoura/pecuária, é assegurada pelo cultivo de espécies forrageiras e pastagens, cuja economicidade é satisfeita pelos mercados de carne e leite, que se apresentam em expansão e com liquidez garantida.
Pesquisador da Embrapa Trigo José Eloir Denardin
Fonte: FEBRAPDP