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Controle microbiano da broca da cana

Principal praga em cana-de-açúcar a broca Diatraea saccharalis provoca danos que vão desde a perda de peso até o menor rendimento em açúcar e álcool. O uso de fungos entomopatogênicos é uma das alternativas para realizar o combate deste inseto.

Com o aumento da demanda de álcool para a produção de biodiesel e exportações desse produto, a área de cana-de-açúcar deverá sofrer aumento significativo, podendo atingir até seis milhões de hectares em São Paulo, principalmente no oeste do estado, onde ainda são encontradas grandes áreas de pastagens. Houve uma ampliação da área de 6,5% em relação à safra anterior e a produção obtida foi 5,4% superior, atingindo 254,81 milhões de toneladas.

Desse modo, o aumento da área plantada de cana resultará em muitos benefícios para a indústria sucroalcooleira, porém, as implicações desse crescimento trarão consequências na área agrícola, principalmente às pragas, como broca-da-cana, Diatraea saccharalis, cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, entre outros insetos de solo.

A broca-da-cana, D. saccharalis, é a principal praga desta cultura, ocorrendo em todas as áreas onde se planta cana-de-açúcar no mundo. As lagartas causam prejuízos diretos ao colmo, abrindo galerias que provocam perda de peso da cana, morte das gemas e falhas de germinação. Os prejuízos indiretos são causados pela infecção de fungos que penetram na galeria e causam a podridão vermelha, como Colletotrichum falcatume, Fusarium moniliforme, que invertem a sacarose, diminuem a pureza do caldo e resultam em menor rendimento em açúcar e álcool. De acordo com resultados de pesquisas sobre o prejuízo causado pela broca, 1% de infestação da praga causa prejuízos de 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de peso.

O controle químico pode ser realizado através de pulverização de inseticidas juvenoides, como triflumuron ou lufenuron ou por inseticidas sistêmicos como o fipronil. Porém, o principal método de controle é o biológico, através da vespinha Cotesia flavipes, introduzida no Brasil desde 1974. Nos últimos anos, esse parasitoide reduziu perdas de até 100 milhões de dólares por ano, sendo 20 milhões apenas no estado de São Paulo, diminuindo a infestação da praga de 10% para 2%. O parasitoide de ovos Trichogramma galloi também tem sido usado no controle da broca, podendo chegar a 60% de controle quando associado à C. flavipes.

Com todas as perspectivas de aumento da área de cana, a produção de parasitoides teria que crescer na mesma proporção, porém, não seria possível no mesmo espaço de tempo, sendo então necessária a utilização de outros métodos de controle, tais como o uso de fungos entomopatogênicos.

D. saccharalis é suscetível a Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, sendo que esses fungos ocorrem naturalmente em cerca de 10% das lagartas nas condições do Nordeste. Estes fungos são patogênicos para todos os estágios de desenvolvimento da broca, sendo altamente eficientes para ovos de um a dois dias de idade. Em experimentos realizados em condições de campo, foi constatada a infecção de 58% de lagartas por M. anisopliae e 44% por B. bassiana, com dosagem de 1013 conídios/ha.

A utilização de fungos entomopatogênicos para o controle de broca da cana foi estudada há 20 anos, porém, não houve continuidade devido ao sucesso do parasitoide C. falvipes. Contudo, com as grandes áreas de expansão da cana-de-açúcar, principalmente em regiões mais quentes, e a crescente demanda do parasitoide para a cultura, tornaram-se necessários novos estudos para aplicação de fungos entomopatogênicos. No entanto, devido ao hábito desta praga, de fazer galerias nos colmos da cana, os fungos só podem ser utilizados para o controle da broca na fase inicial, antes de perfurar o colmo, ou seja, lagartas de 1º ou 2º instar de 0,5cm a 1cm.

Fungos entomopatogênicos

Os fungos entomopatogênicos B. bassiana e M. anisopliae são comumente encontrados infectando insetos e o maior depósito se localiza no solo. A maioria das doenças de insetos é causada por fungos. Portanto, para o desenvolvimento de um programa de controle microbiano, a coleta, o isolamento, a caracterização e a seleção de isolados são etapas básicas para que se possa conhecer as espécies e isolados mais virulentos à praga-alvo.

O Instituto Biológico possui uma coleção de fungos entomopatogênicos que podem ser usados nesse tipo de programa. Trata-se da Coleção de Fungos Entomopatogênicos “Oldemar Cardim Abreu”, do Laboratório de Controle Biológico em Campinas, São Paulo.

Em projeto financiado pela Fapesp para estudos de isolados de B. bassiana e M. anisopliae foram realizadas coletas em 121 pontos georreferenciados com cana-de-açúcar de São Paulo, sendo incorporados 27 isolados de B. bassiana e um de M. anisopliae para estudos de comparação de virulência.

Estudos de produção em fermentação sólida no substrato arroz também são necessários nesse tipo de programa, pois a multiplicação de conídios desses fungos é importante para que se possa obter um potencial de inóculo adequado para o controle da praga.

Quanto à virulência, a CL90 para lagartas de 0,5cm e 1,5cm de comprimento para os dois fungos, verificou-se o seguinte: B. bassiana para lagartas de 0,5cm – 1,1×108 conídios/ml e lagartas de 1,5cm 5×108 conídios/ml. Para M. anisopliae para lagartas de 0,5cm 4,2×108 conídios/ml e para lagartas de 1cm – 7×108 conídios/ml, considerando a mortalidade total das lagartas nos bioensaios.

A partir desses resultados de patogenicidade, pode-se verificar que o fungo B. bassiana foi mais virulento que M. anisopliae, pois a Concentração Letal 90 foi pelo menos três vezes nos dois tamanhos de lagartas. Verificou-se ainda que a dimensão do inseto influencia na mortalidade pelos fungos, pois a lagarta com 1,5cm de comprimento necessitou de maior quantidade de conídios para causar 90% de mortalidade.

Monitoramento no campo

O monitoramento da população na fase inicial da D. saccharalis pode ser feito com armadilha para a coleta de machos adultos, com galões de 20 litros abertos lateralmente, fixando-se cinco fêmeas virgens no teto do galão e colocando-se água + detergente na parte inferior, sendo que esta estrutura pode ser instalada no campo a dois metros do solo. Pode-se utilizar uma armadilha desse tipo a cada dez hectares, iniciando-se o monitoramento pelas áreas com variedades mais suscetíveis à broca.

Essa técnica também é utilizada para a liberação de Trichogramma galloi, parasitoide de ovos da broca. Porém, no caso de uma infestação mais alta, é importante amostrar dois pontos por hectare, com dois sulcos de cinco metros cada, para se observar a presença de lagartas atacando as folhas da cana ainda, ou seja, de primeiro instar, sendo o momento de fazer uso de bioinseticidas à base de fungos.

Aplicação de fungos entomopatogênicos

A aplicação de bioinseticidas à base fungos entomopatogênicos pode ser realizada com pulverizadores tratorizados terrestres ou avião, priorizando as folhas da cana, que normalmente no início da infestação ainda está mais baixa que um metro de altura. Podem-se utilizar bicos com jato em cone aberto para tratores terrestres com 100 litros/ha ou 30 litros/ha para avião.

O fungo B. bassiana pode ser utilizado no controle de D. saccharalis em condições de campo com a dosagem de 6kg de arroz + fungo/ha. Já M. anisopliae pode ser aplicado com a dosagem de 10kg de arroz + fungo/ha, quando a infestação inicial estiver com no máximo 2% de lagartas pequenas para ambos.

Deve-se respeitar algumas condições climáticas que irão favorecer a infecção do fungo no inseto, neste caso, a aplicação deverá ser sempre após as 16h e Umidade Relativa acima de 65%, de preferência um período de oito horas sem chuva intensa, para que os conídios não lavados.

A eficiência de controle com os fungos B. bassiana e M. anisopliae nas dosagens recomendadas é similar aos inseticidas juvenoides, obtendo-se em média 60% de controle das lagartas pequenas da broca.

Controle biológico da broca-da-cana

A broca-da-cana é a principal praga da cana-de-açúcar, causando enormes prejuízos para produção de açúcar e álcool. Portanto, o produtor não pode descuidar do monitoramento e utilizar as técnicas de controle baseadas no Manejo Integrado de Pragas, ou seja, o uso de parasitoides e entomopatógenos, medidas culturais e, por fim, no caso de populações que possam atingir o nível de dano econômico, fazer uso de controle químico. Porém, a cana é a cultura que mais suporta o uso de agentes de controle biológico, sendo o manejo da broca com parasitoides o mais importante, em termos de área aplicada. Sendo assim, o uso de bioinseticidas à base de fungos ainda pode ser considerado uma medida complementar importante para área de expansão onde os parasitoides ainda não se estabeleceram como os principais agentes de controle.

Fonte: Revista Cultivar

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