O silício é um elemento benéfico com amplo potencial na agricultura, sendo absorvido pelas plantas na forma de ácido monossilícico (H4SiO4). Mas como ele ajuda a melhorar a lavoura? Conheça os cinco principais benefícios que uso do silício como fertilizante pode proporcionar para diferentes culturas.
Os benefícios do uso de fertilizantes com silício
O silício (Si) é reconhecido como um elemento benéfico pela comunidade científica desde 2015. De acordo com o Jornal Informações Agronômicas 134, do International Plant Nutrition Institute (IPNI), ele oferece diversos benefícios para crescimento, proteção e metabolismo das plantas. Mas, quais são esses benefícios?
- Reduz os efeitos dos estresses abióticos
Os estresses abióticos são um grande desafio que os agricultores enfrentam no campo. Eles são causados por condições ambientais adversas, como a seca. De acordo com o boletim Monitoramento de secas e impactos no Brasil, nº 37, em junho de 2021, esse fenômeno já afetava quase 200 milhões de hectares no Brasil.
Na pesquisa Efeito da acumulação de silício e a tolerância das plantas de arroz de sequeiro ao déficit hídrico do solo, R. Faria observou que quanto maior a condição de estresse hídrico, maior foi a resposta (produção de grãos) das plantas ao silício.
Uma das possibilidades para explicar a ação do silício na redução dos danos causados pelo estresse hídrico é o fortalecimento dos tecidos vegetais, que evita a perda excessiva de água pela planta pelo processo de transpiração.
Além disso, também vem sendo observado o potencial do Si para promover a resistência das plantas a condições de estresse salino. O excesso de sais presentes no solo pode afetar diretamente a produtividade das culturas por interferir no processo de absorção de água pelas plantas.
Alguns pesquisadores sugerem que o silício é capaz de promover esse benefício ao estimular o sistema antioxidante da planta, o que ajuda a garantir a integridade e a estabilidade das membranas celulares em condições de estresse salino.
A integridade e estabilidade das membranas celulares também são favorecidos pela deposição de sílica, principalmente nas paredes das células da epiderme.
Esse fortalecimento da estrutura das plantas é vantajoso para mitigar os efeitos do estresse térmico, como as geadas, que podem levar ao comprometimento da produtividade de algumas culturas.
Antes das geadas de julho de 2021, por exemplo, a Conab tinha expectativa que a safra de café de 2022 fosse 10% superior à de 2020. Contudo, foram estimadas quedas de produção de até 30% nos principais estados atingidos pelas geadas.
Segundo o artigo Silício na agricultura, da revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), nos Estados Unidos o uso do silício se mostrou eficiente para reduzir os efeitos negativos das geadas nas plantações de cana-de-açúcar do estado da Flórida.
- Melhora a produtividade das culturas
Ao ser incorporado pela planta, o silício é capaz de provocar mudanças na anatomia vegetal, principalmente pela deposição de uma dupla camada de sílica abaixo da cutícula dos tecidos vegetais.
A deposição de sílica permite que as plantas consigam manter as suas folhas mais eretas, proporcionando, assim, um melhor aproveitamento da radiação solar. Essa maior eficiência é reflexo direto da redução do auto sombreamento, acamamento e transpiração de algumas culturas, como a cana-de açúcar.
O melhor aproveitamento da radiação solar permite uma maior conversão de fotoassimilados – uma das principais fontes de energia da planta – através do processo da fotossíntese.
Além disso, o silício favorece alguns dos componentes essenciais desse processo, protegendo os pigmentos fotossintéticos e as estruturas dos cloroplastos. Tudo isso se reflete diretamente na produtividade das culturas.
Produção de colmos (cana-planta + cana soco) em função da aplicação de silicato de cálcio e calcário.
(Fonte: RODRIGO F. A., et al., 2011)
- Aumenta a resistência das plantas aos metais tóxicos
Em condições de acidez, os metais tóxicos, como o alumínio e o cádmio, são capazes de inibir o desenvolvimento do sistema radicular e reduzir o crescimento das plantas, respectivamente.
Algumas pesquisas têm demonstrado que o silício é capaz de minimizar os efeitos da toxicidade desses dois metais, como os artigos:
- Effect of Si on the distribution of Cd in rice seedlings, publicado no JournalPlant and Soil;
- Aluminium/silicon interactions in conifers, publicado no Journal of Inorganic Biochemistry.
No primeiro artigo, Xinhui Shi e outros pesquisadores demonstraram que as concentrações de cádmio (Cd) na parte aérea e nas raízes do arroz diminuíram na presença de Si, por esse elemento possuir uma extrema afinidade pelo Cd.
Já no segundo artigo, Hodson e Sangster explicam que o alumínio e o silício podem formar hidroxialuminossilicatos (HAS), em condições de pH próximo da neutralidade. Isso leva a redução dos sintomas de toxicidade e favorece o desenvolvimento da planta.
Efeito do silício e do alumínio no comprimento das raízes de trigo em variedades resistente ao alumínio (esquerda) e em variedade suscetível (direita). (Fonte: ZSOLDOS et al, 2003)
- Auxilia na defesa das plantas contra pragas
O controle de pragas, como insetos herbívoros e nematoides, também está entre os benefícios do silício, possuindo tanto uma ação direta, quanto indireta.
Diretamente, a formação da dupla camada de silício, somada ao aumento dos tricomas (pelos que ficam na superfície da planta), torna a planta menos palatável e causa danos ao aparelho bucal das pragas.
Mandíbulas de lagartas de Eldana saccharina (broca da cana-de-açúcar) alimentadas com plantas tratadas (direita) e não tratadas (esquerda) com silício. (Fonte: KEVDARAS, O., 2011)
Indiretamente, o silício pode melhorar a defesa da planta intensificando a atração de inimigos naturais.
No artigo Silicon-augmented resistance of plants to herbivorous insects: a review, Olivia Reynolds e seus colegas pesquisadores destacaram que o silício pode induzir a resistência da planta, provavelmente, por meio de diferentes voláteis e/ou pela quantidade de voláteis produzidos pela planta atacada.
Na cultura do café, o silício demonstrou resultados no controle de nematoides. No artigo Biochemical responses of coffee resistance against Meloidogyne exigua mediated by silicon, o Dr. Fabrício e seus colegas inocularam ovos do parasita em dois diferentes cultivares de café Coffea arabica e avaliaram o potencial da nutrição com silício no manejo integrado para o controle de nematoides de galha.
Após 120 dias, os pesquisadores avaliaram parâmetros como a quantidade de ovos presentes nas raízes do café, bem como a penetração dos nematoides no sistema radicular e concluíram que os pés de café que receberam o tratamento com silício tiveram uma resposta bioquímica mais eficiente contra a infecção.
- Reduz a intensidade de doenças
Independentemente da forma de aplicação, o silício tem contribuído de forma significativa na redução da intensidade de várias doenças de importância econômica em diferentes culturas, como:
- Café: ferrugem e cercosporiose;
- Arroz: brusonee mancha parda;
- Cana-de-açúcar: ferrugem e mancha anelar;
- Soja: ferrugem, cercosporiose e cancro da haste;
- Milho: podridão de plântulas;
- Trigo: oídio.
Nas plantas acumuladoras de silício, como o arroz, grande parte do efeito do silício no combate de doenças é atribuído a deposição e polimerização do ácido monossilícico abaixo da cutícula do vegetal.
Representação da formação da dupla camada cutícula-sílica. (Fonte: YOSHIDA, 1965)
Para outras plantas denominadas intermediárias e não acumuladoras, como a soja, acredita-se que a dupla camada de Si não tem tanta importância na defesa da planta contra agentes de infecção. Nesse caso, a atuação do silício está mais relacionada à ativação de genes.
No livro Silicon in Agriculture, Anne Fawea e outros pesquisadores explicam que o silício pode agir como ativador de genes de sinalização na biossíntese de compostos de defesa, como fitoalexinas, fenóis e fenilpropanóides.
Esse efeito é demonstrado no artigo Efficiency of calcium silicate and carbonate in soybean disease control.
Nesse estudo, os pesquisadores Antonio Nolla, Gaspar H. Korndorfer e Lísias Coelho observaram que, nas condições do experimento, a fonte de silício utilizada na cultura da soja foi capaz de reduzir a incidência de Cercospora sojina (mancha “olho-de-rã”) e Peronospora manshurica (míldio).
A frequência de aplicação e a dosagem do silício são a chave para garantir todos os benefícios do silício
Para alcançar todos os benefícios do silício apresentados, é preciso estar atento à frequência de aplicação do fertilizante, como aponta a doutora em Entomologia Agrícola pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e Professora do Curso de Agronomia da Faculdade Anhanguera, Dra. Ana Clara Ribeiro de Paiva:
“Quando falamos em resistência em plantas através da aplicação de silício, estamos falando de uma resistência induzida, ou seja, a manifestação dessa resistência é temporária”.
Isso faz com que esse efeito não seja herdado geneticamente e sejam necessárias reaplicações do nutriente para manter o efeito, evitando as condições de superdosagem.
Dessa forma, ao aplicar uma fonte adequada de silício na dosagem e frequências certas, o agricultor é capaz demitigar os efeitos dos estresses bióticos e abióticos, minimizar os efeitos da toxicidade dos metais e favorecer a produtividade da sua lavoura.
Fonte: Verde Ag