Especialistas analisaram o uso da previsão do tempo para a tomada de decisão e gestão da lavoura
O clima é um dos fatores que mais influencia o campo. Não só nos resultados de produtividade mas em manejos, contratação de seguros, de custeios e planejamento. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), desenvolvido pela Embrapa, por exemplo, já tem 24 anos de operação no país. Surgiu com o trigo e hoje orienta produtores de diversas culturas, em diversas regiões. A ferramenta gera calendários para as culturas que contam com zoneamento publicado, indicando os municípios aptos ao cultivo, data ideal para semeadura com baixo risco climático, cultivares adaptadas à região e tipo de solo para o cultivo.
A estimativa é que a redução de perdas de produção decorrentes de eventos meteorológicos é de R$ 3,6 bilhões anuais, graças à adoção do Zarc na concessão de crédito de custeio e de seguro aos produtores rurais. O Zarc é só uma das ferramentas. A previsão do tempo, com assertividade no uso da agrometeorologia vem atraindo produtores de olho em aplicar melhor seus recursos.
O assunto foi debatido em uma live promovida pelo Pulse Hub, uma iniciativa da Raízen, empresa que atua em toda cadeia da cana-de-açúcar, e que conecta startups a investidores. Para Felipe Pilau, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq/USP, quando se fala em meteorologia aplicada a agricultura duas palavras são fundamentais: planejamento e tomada de decisão. “Semeadura, aplicação de químicos, colheita, tudo é influenciado pela variação climática. Cerca de 50% da maleabilidade das áreas agrícolas estão diretamente ligadas à meteorologia”, diz.
As aplicações no campo, a partir do que a meteorologia diz são diversas: Monitoramento de irrigação (se é a hora de ligar o pivô, economia de água e energia); alertas fitossanitários racionalizando uso de agroquímicos (se o clima não favorece o desenvolvimento de doenças não precisa aplicar produto à toa); condições de solo e mais recentemente com agricultura de precisão a análise do solo e variabilidade de fertilidade em cada talhão e como isso impacta em produtividade.
As técnicas de previsão também evoluíram com a agricultura de precisão, resultando na agrometeorologia de precisão. “A meteorologia é fundamental na agricultura mas o conhecimento do agricultor sobre isso ainda é baixo. É difícil, por exemplo, ele ter a média de água que cada cultura vai necessitar para se desenvolver cultura e isso é relacionado com meteorologia. É ela que determina se a produção vai funcionar, o quanto de chuva ou irrigação será necessário e se isso vai se confirmar na lavoura”, exemplifica Pilau.
Luiz Augusto Machado, membro do corpo Docente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pesquisador visitante do Max Plack Institut for Chemistry, explica que há três tipos principais de previsão do tempo: a longo tempo, onde são avaliados, por exemplo, os impactos do desmatamento daqui há 50 anos; a sazonal, que é aquela que produtor precisa saber para logo se vai chover, quanto vai chover, fenômenos climáticos como El ninõ e La ninã; e a imediata, que é relativamente nova no Brasil .Ela mostra com precisão onde vai chover, que horas, quantos milímetros. É muito usada nos Estados Unidos para prever avanço de furacões. “Esta última é muito importante para o agricultor porque dá a previsão exata. Para fazer isso anda há dificuldade. Precisamos de radares, satélites e redes de descarga elétrica e isso é custo”, relata o professor.
Momento de investir
Pilau é da opinião de que é um momento muito interessante para o setor de agrometeorologia. “O produtor vem observando mais os produtos e serviços voltados a isso, que ajudem a responder as perguntas no campo, minimizando riscos, favorecendo o sistema de produção e aumentando produtividade e lucratividade”, destaca. No Sul, por exemplo, a forte estiagem que afetou a safra de verão, com déficit hídrico forte levou o produtor a buscar mais informações sobre a previsão do tempo para os próximos meses. “Ele precisa tomar decisões para a safra de inverno e para a próxima de verão”, enfatiza.
Machado destaca que o custo e a conectividade nas lavouras ainda são os maiores obstáculos para o avanço a agrometerologia. “Levar uma rede de estações meteorológicas pro campo é um desafio, especialmente para startups. O produtor conseguir fazer a medição e ao mesmo tempo as empresas de clima poderem aperfeiçoar esse serviço em tempo real. Para funcionar tem que ter custo acessível e que se enquadre dentro das necessidades dele”, aponta.
“É algo muito importante pra tomada de decisão nas atividades do dia a dia. São milhares de reais por hectare que podem ser perdidos por um manejo que dá errado por não observar as tendências do clima. Mesmo que a conectividade ainda barre a expansão esse investimento hoje é muito válido”, finaliza Pilau.
Fonte: Agrolink Por Elisa Maliszewski