Embora apenas 28% dos 17,6 milhões de hectares de milho da safra 2018/2019 sejam semeados em primeira safra, essa ainda é a escolha de muitos produtores que não podem fazer a safrinha.
Mas a média de produtividade brasileira, de 5 toneladas por hectare, ainda está abaixo da média mundial. Isso mostra o grande potencial de aumento de produção.
Como normalmente as empresas já direcionam suas cultivares de acordo com as regiões mais aptas, fique atento caso adquira sementes em local diferentes de onde será semeada a lavoura.
Para produção de silagem, verifique a sanidade foliar e resistência às principais doenças como ferrugens e enfezamentos.
Período de enchimento de grãos prolongado também é uma característica importante, pois amplia o tempo hábil da colheita da planta para silagem.
Na produção de grãos, características relacionadas à qualidade e uniformidade dos grãos são essenciais. Confira também a resistência a acamamentos para não prejudicar a colheita.
2 – Entenda os requisitos da cultura (Antonio Luiz Fancelli)
O milho é cultivado nos mais amplos ambientes. Porém, essa espécie apresenta alguns requisitos básicos quanto à temperatura e disponibilidade hídrica em períodos chaves.
Desse modo, se seguirmos esses requisitos, teremos mais chances de garantir o potencial produtivo da cultivar escolhida.
Variação da produtividade como produto da relação entre o material genético e o fenótipo da cultivar em dado ambiente de produção / (Fonte: Visão Agrícola, 2015)
Na semeadura, por exemplo, o ideal é que a temperatura do solo esteja acima dos 18℃ e abaixo dos 35℃. Isso visa garantir uma germinação uniforme e a atividade das enzimas relacionadas ao ciclo do nitrogênio no solo.
Temperaturas noturnas maiores que 24℃ aumentam o gasto energético da planta, diminuindo o saldo de fotoassimilados que são destinados ao desenvolvimento.
Altas temperaturas noturnas podem reduzir o ciclo da planta também, o que pode afetar diretamente no potencial produtivo da cultivar!
Quanto ao requerimento hídrico, o milho necessita entre 400 mm e 600 mm ao longo de seu ciclo.
Sendo que o período mais crítico está 15 dias antes e 15 dias depois do emborrachamento (aparecimento da inflorescência masculina).
Com isso, o planejamento da semeadura deve assegurar a disponibilidade de água nesse período!
3 – Manejo baseado na fenologia da planta (Antonio Luiz Fancelli)
O ciclo do milho pode variar entre 110 dias (para as cultivares mais precoces) e 160 dias, no caso das mais tardias.
Essa variação ocorre principalmente pelas diferentes quantidades de energia térmica ou calor requeridas pelas cultivares.
Para se desenvolver, a planta de milho necessita acumular unidades calóricas, que são comumente medidas em graus-dias (GD).
Dessa forma, quando nos baseamos em uma escala de tempo, como “dias após a semeadura”, reduzimos a eficiência dos insumos aplicados.
Portanto, é importante utilizarmos a escala fenológica da planta para planejar o plantio e manejos da lavoura como um todo para uma boa safra de milho.
(Fonte: Adaptado da Universidade de Kansas)
4 – Prolongar a vida útil do Bt (Celso Omoto e Oderlei Bernardi)
A primeira tecnologia Bt foi aprovada para milho no Brasil em 2007. Desde então, diversas tecnologias inseticidas foram liberadas no país.
Entretanto, a quebra dessas tecnologias, via resistência das pragas pode colocar décadas de pesquisa em xeque.
Para diminuirmos a pressão de seleção sobre as pragas e prolongarmos a tecnologia Bt, que atualmente é uma das maiores aliadas do produtor na manutenção do potencial produtivo, devemos seguir alguns passos:
- Utilização da área de refúgio é a medida mais importante! Ela deve equivaler a pelo menos 10% da área plantada e ser semeada com uma cultivar de ciclo vegetativo similar à cultivar transgênica;
- Limitar as pulverizações para controle de pragas na área de refúgio somente até a fase V6 do milho;
- Rotacionar a área com diferentes tecnologias Bt;
- Dispor a área de refúgio a não mais de 800 m da área Bt.
Disposição esquemática de áreas de refúgio em lavouras tradicionais e em pivô central /(Fonte: Visão Agrícola, 2015)
5 – Controle das plantas daninhas na safra de milho (Pedro Jacob Christoffoleti)
Plantas invasoras podem acarretar perdas de até 87% na produção de milho, segundo estimativas. Por isso, controlá-las é de extrema importância para uma boa safra de milho.
A planta de milho é altamente competitiva quando bem conduzida. Dessa forma, semear a cultivar indicada para a região no período correto, fazer a dessecação adequada e atender à demanda nutricional da planta já garantem boa parte do serviço.
A próxima etapa é fazer o controle no período correto, de acordo com a escala fenológica da cultura (entre 3 e 14 folhas completamente expandidas), como comentei acima.
Período crítico de prevenção da interferência (PCPI) na cultura do milho / (Fonte: Acervo do autor)
6 – Sistema plantio direto para safra de milho (José Laércio Favarin e Silas Maciel de Oliveira)
O sistema de plantio direto proporciona vantagens em ambientes tropicais como o do Brasil.
E, na cultura do milho, que está majoritariamente nesse tipo de ambiente, o plantio direto permite maior eficiência do uso dos nutrientes. O SPD também diminui as perdas através da erosão das camadas superficiais.
Ele garante ainda umidade no solo durante a germinação e na fase crítica da cultura (durante o pendoamento).
Água disponível entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, para solo em SPD e SC, no cultivo do milho / (Fonte: Adaptado de Dalmago et al., 2009)
Além disso, promove o controle da temperatura do solo, ajudando na germinação e na eficiência das enzimas do solo (ex: nitrato redutase).
7 – Consórcio com forrageiras (Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida e Silas Maciel de Oliveira)
O desafio para usufruir de todas as vantagens do sistema plantio direto é garantir uma cobertura do solo adequada e uniforme.
E nesse aspecto, esta é a última dica que separei: o consórcio de milho com forrageiras.
Essa técnica é capaz de produzir biomassa suficiente para proteger o solo durante a entressafra e início da safra sem afetar a produtividade da lavoura de milho.
Aqui no blog, já falamos sobre consórcio de forrageiras como a brachiaria. Recomendo que você dê uma olhada!
Produção de milho; Mato Grosso (Centro-Oeste) é o maior entre as regiões produtoras nos últimos anos, segundo Conab / (Fonte: Embrapa)
Conclusão
A produção total de milho no Brasil deve chegar a 99,9 milhões de toneladas na safra atual, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Será um aumento de 23% em relação à safra passada.
Mas, ainda há muito espaço para ganho de produtividade – que está abaixo da média mundial. E vimos que isso pode ser feito com foco no manejo adequado das áreas!
Neste artigo, mostramos algumas dicas para atingir todo o potencial produtivo da lavoura de milho, seja para grãos ou silagem.
Falamos sobre os requisitos da cultura, controle adequado de daninhas, sistema de plantio direto e consórcio com forrageira, entre outros pontos importantes.
Lucas Nogueira é engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP em Piracicaba-SP. Atualmente sou Mestrando em Fitotecnia na mesma instituição, pesquisando sobre plantio direto e consórcio de culturas graníferas com forrageiras tropicais.*