Por Assistec Agrícola
A COP30, realizada em Belém, colocou o agronegócio brasileiro no centro das discussões globais sobre clima. Segundo Muni Lourenço, vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Comissão de Meio Ambiente da entidade, a participação do setor foi “contundente” e “robusta”, com o agro se apresentando como parte da solução para os desafios climáticos, e não como vilão.
Ao mesmo tempo em que o Brasil mostrou dados, tecnologia e resultados concretos em sustentabilidade, a CNA também saiu da conferência com frustrações importantes: a falta de avanço em mecanismos de financiamento climático e na criação de um mandato específico para a agricultura tropical, tema central para países como o Brasil. :contentReference[oaicite:1]{index=1}
O que o agro brasileiro levou para a COP30
A presença do agro na COP30 teve como vitrine a AgriZone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa, que funcionou como espaço estratégico para divulgação de dados científicos e de experiências de campo. :contentReference[oaicite:2]{index=2}
Um dos destaques foi a nova edição do estudo de uso da terra da Embrapa Territorial, mostrando que:
- 65,6% do território brasileiro permanece com cobertura vegetal nativa;
- 29% dessa área está preservada dentro de propriedades privadas, reforçando a contribuição direta dos produtores rurais na conservação ambiental. :contentReference[oaicite:3]{index=3}
Esses números ajudam a reposicionar a narrativa internacional: a produção de alimentos no Brasil convive com alto percentual de preservação e forte exigência legal sobre a área produtiva, o que diferencia o país de outros grandes produtores em clima temperado.
Onde estão as frustrações: financiamento climático e agricultura tropical
Apesar do protagonismo brasileiro, a CNA avaliou que o “legado da COP para o agro” ainda ficou aquém do necessário. Em especial, dois pontos defendidos pela entidade não avançaram como esperado: :contentReference[oaicite:4]{index=4}
- Financiamento climático: as negociações esbarraram em impasses entre países, com resistência das nações desenvolvidas em assumir compromissos mais claros com recursos para adaptação, mitigação e agricultura sustentável em países em desenvolvimento.
- Mandato específico para agricultura tropical: a CNA defende que a produção em clima tropical seja tratada com métricas próprias, já que boa parte das regras e ferramentas globais foi construída com base na agricultura de clima temperado, o que pode distorcer a leitura da realidade brasileira e limitar o acesso a mecanismos de remuneração por serviços ambientais. :contentReference[oaicite:5]{index=5}
Na prática, isso significa que o produtor brasileiro segue investindo em tecnologia, preservação e eficiência, mas ainda enfrenta dificuldade para acessar recursos e políticas internacionais à altura do papel que já desempenha na agenda climática.
Por que isso importa para o produtor e para as fazendas do Centro-Oeste
À primeira vista, decisões tomadas em uma conferência mundial podem parecer distantes da rotina da fazenda em Jataí, Rio Verde, Sudoeste Goiano ou Mato Grosso. Mas o que é discutido na COP30 influencia diretamente:
- Acesso a crédito e taxas de juros: linhas verdes, financiamentos com incentivo para recuperação de áreas degradadas, ILP, manejo de solo e baixa emissão de carbono dependem, em grande parte, de como o financiamento climático é estruturado globalmente.
- Regras de mercado e exigências de compradores: exportadores, indústrias e tradings tendem a se alinhar às decisões da agenda climática, exigindo cada vez mais rastreabilidade, comprovação de conformidade ambiental e redução de emissões ao longo da cadeia.
- Valorização (ou desvalorização) de práticas que o produtor já faz: manejo integrado, preservação de APP e Reserva Legal, recuperação de pastagens e uso racional de insumos podem se transformar em vantagem competitiva — ou apenas em custo não remunerado, dependendo de como avançam os mecanismos de mercado e as políticas de clima.
Recomendações da Assistec Agrícola: como se posicionar nesse cenário
Enquanto grandes decisões globais seguem em negociação, há atitudes práticas que o produtor pode tomar para fortalecer sua posição técnica, ambiental e de mercado:
- Organizar a “pastinha ambiental” da fazenda: manter atualizados CAR, licenças, laudos de uso e conservação do solo, registros de manejo de áreas sensíveis e mapas de uso da terra. Isso facilita tanto auditorias quanto acesso a créditos e programas de sustentabilidade.
- Documentar práticas sustentáveis que já são realidade: integração lavoura-pecuária, rotação de culturas, plantio direto bem feito, manejo de resíduos, proteção de nascentes e matas ciliares. O que hoje é “rotina de manejo” pode virar diferencial competitivo amanhã.
- Avaliar oportunidades em programas de baixa emissão e carbono: acompanhar iniciativas públicas e privadas ligadas a agricultura de baixo carbono e projetos de remuneração por serviços ambientais, especialmente para áreas de reserva e práticas conservacionistas.
- Tomar decisões com base em dados: uso de agricultura de precisão, monitoramento de solo, clima e produtividade é fundamental para ganhar eficiência e comprovar resultados ambientais e produtivos.
- Buscar suporte técnico especializado: diante de um cenário regulatório mais complexo, contar com uma equipe técnica que entende tanto de agronomia quanto das novas demandas de sustentabilidade faz diferença na hora de planejar a fazenda.
Visão de médio prazo: agro como parte da solução
A mensagem central que o agro brasileiro levou à COP30 é clara: o produtor rural já faz parte da solução climática, produzindo alimentos em escala, preservando grande parte do território e adotando tecnologia de ponta. :contentReference[oaicite:6]{index=6}
O desafio, daqui em diante, é alinhar essa realidade de campo com políticas e mecanismos internacionais que reconheçam e remunerem esse esforço. Isso inclui desde regras mais justas para a agricultura tropical até o acesso simplificado a financiamento climático, passando por instrumentos de mercado que valorizem quem produz com responsabilidade.
Para a Assistec Agrícola, esse movimento reforça um ponto: gestão técnica, organização de informação e planejamento de longo prazo não são mais opcionais. São a base para atravessar ciclos de preço, clima e regulação, mantendo a fazenda competitiva, sustentável e preparada para as próximas mudanças da agenda climática.
Fonte: Canal Rural – Planeta Campo / COP30: “CNA destaca avanço do agro na discussão climática e aponta frustrações na COP30”, publicação de 21/11/2025.
Conteúdo adaptado e comentado pela equipe técnica da Assistec Agrícola.