A fase inicial da safra 2025/2026 confirma um cenário que exige atenção redobrada no campo. Percevejos avançando nos primeiros talhões, desempenho oscilante do glufosinato de amônio e os primeiros registros oficiais de ferrugem-asiática. Para o produtor, esses três pontos têm impacto direto no potencial produtivo, na qualidade do grão e no planejamento de aplicações neste início de ciclo.
1. Percevejos: perdas quantitativas e qualitativas que não podem ser ignoradas
Os percevejos continuam entre as pragas mais desafiadoras da soja. As espécies de maior ocorrência incluem:
- Percevejo-marrom (Euschistus heros)
- Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)
- Percevejo-verde (Nezara viridula)
- Percevejo-barriga-verde (Diceraeus furcatus e D. melacanthus)
Mesmo em baixas populações, o dano é expressivo. A literatura estima perda média de 70 kg/ha para cada 1 percevejo/m², podendo ultrapassar esse patamar em altas infestações.
Além do impacto no rendimento, os danos qualitativos são severos e irreversíveis, afetando vigor, porcentagem de plântulas normais, viabilidade e até o teor de proteína e lipídios da semente. Em alguns estudos, sementes atacadas apresentaram até 2,4% menos proteína.
O período mais crítico ocorre entre R4 e R6, quando o ataque precoce amplia o dano quantitativo, e o ataque tardio degrada a qualidade da semente.
Por que isso importa agora?
O avanço dos percevejos nessa fase da safra exige um programa químico eficiente, rotacionado e baseado em moléculas de real eficácia. Pesquisas recentes mostram diferenças na suscetibilidade de populações — especialmente Euschistus heros — a alguns ingredientes ativos.
Nesse contexto, inseticidas com ação combinada, efeito residual consistente e maior capacidade de translocação apresentam vantagem no campo, como é o caso de tecnologias que reúnem efeito de contato, ingestão e ação sistêmica/translaminar.
Rotacionar grupos químicos e incluir moléculas modernas é fundamental para manter eficiência e reduzir pressão de seleção.
2. Glufosinato de amônio: por que o desempenho oscila e como garantir boa performance
O glufosinato é um herbicida fotodependente, ou seja, sua eficácia está diretamente relacionada à disponibilidade de luz após a aplicação.
Aplicações feitas muito cedo, muito tarde ou em dias nublados tendem a apresentar menor desempenho, porque a inibição da glutamina sintetase não evolui para o acúmulo de espécies reativas de oxigênio (EROs) necessário para necrose do tecido foliar.
Fatores críticos para boa eficiência:
- Evitar aplicações com umidade relativa < 40% e temperaturas altas;
- Não aplicar sobre orvalho, chuva ou neblina;
- Garantir mínimo de 5 horas sem chuva após a aplicação;
- Priorizar aplicações entre 20 °C e 30 °C com UR > 50%;
- Dar preferência para plantas daninhas jovens (dicotiledôneas de 2 a 4 folhas e monocotiledôneas até 1 perfilho);
- Atenção com aplicações diurnas em dias muito quentes: podem comprometer o resultado mesmo havendo boa luminosidade.
Mesmo sendo dependente de luz, aplicações em condições extremas de temperatura e umidade relativa podem exigir ajustes para horários mais amenos, desde que haja luminosidade posterior suficiente.
3. Primeiros casos de ferrugem-asiática na safra: alerta para monitoramento e manejo preventivo
A ferrugem-asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi, é uma doença policíclica e altamente agressiva. Os primeiros registros da safra 2025/26 já ocorreram em:
- 18/11 – Corbélia (PR) – soja em R3;
- 19/11 – Itapetininga (SP) – soja em R2;
- 24/11 – Terra Roxa (PR) – soja em R5.
Todos em lavouras semeadas em setembro, reforçando a vulnerabilidade das áreas mais precoces.
Ambientes com chuvas frequentes, orvalho prolongado e temperaturas entre 18 °C e 26,5 °C favorecem a penetração e o progresso da doença. A infecção exige pelo menos 6 horas de molhamento foliar, atingindo máxima penetração entre 10 e 12 horas.
Por que isso acende o alerta?
Porque a ferrugem, diferente de outras doenças, exige manejo 100% preventivo.
Com a chegada dos primeiros focos, áreas vizinhas devem intensificar:
- Monitoramento semanal (ou até mais frequente nas áreas precoces);
- Uso de fungicidas de alta performance;
- Rotação de grupos químicos;
- Associação entre multissítios e sítio-específicos;
- Rigor no calendário de aplicação.
Neste momento da safra, atrasar a entrada pode custar sacos por hectare.
Recomendações Técnicas da Assistec Agrícola
- Intensificar o monitoramento de percevejos nas fases R4–R6;
- Priorizar inseticidas com ação sistêmica e bom residual;
- Construir programas químicos rotacionando grupos e moléculas modernas;
- Ajustar janelas de aplicação do glufosinato conforme luminosidade, temperatura e umidade relativa;
- Nunca aplicar glufosinato sobre orvalho ou com previsão de chuva nas próximas 5 horas;
- Manter vigilância ativa para ferrugem, especialmente em áreas semeadas em setembro;
- Antecipar calendarização de fungicidas quando houver focos próximos;
- Associar multissítios para ampliar espectro e reduzir risco de resistência.
Conclusão
O início da safra 2025/26 confirma a necessidade de uma condução técnica precisa. Percevejos, glufosinato e ferrugem são temas que, apesar de distintos, convergem em um ponto central: não há espaço para erro no manejo inicial.
Produtores que ajustarem estratégia de monitoramento, posicionamento de produtos e janela de aplicações tendem a preservar o potencial produtivo e manter o rendimento da lavoura.
A Assistec Agrícola segue acompanhando o avanço da safra e se coloca à disposição para orientar, ajustar estratégias e apoiar o produtor nas decisões que realmente fazem diferença no campo.