O uso de cultivares transgênicas capazes de expressar toxinas Bt tem sido a opção mais segura no controle de diversas espécies que ocorrem na cultura do algodão e ocasionam desfolha e danos nas estruturas vegetativas, com impactos na produção
Assim como na safra de algodão 2021/22 em Mato Grosso, a temporada 2022/23 tem sofrido com a ocorrência das lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includens), do complexo Spodoptera com Spodoptera eridania e Spodoptera frugiperda, além de Helicoverpa armigera. A incidência se dá, principalmente, em lavouras plantadas com cultivares que não possuem ferramentas de controle dessas pragas, como a tecnologia Bt. Pesquisas realizadas pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) e apresentadas neste mês em Sapezal-MT, mostram a redução ou inexistência de danos em plantas transgênicas de algodão.
Os materiais capazes de expressar toxinas Bt (de Bacillus thurigiensis), por exemplo, apresentam controle das espécies de lagartas curuquê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), falsa-medideira (C. includens), Helicoverpa armigera, lagarta-das-maças (Chloridea virescens) e Spodoptera spp., todas ocorrentes na cultura do algodão. Nas pesquisas da Fundação MT desta safra, até o momento não se observou população de lagartas e, consequentemente danos, em cultivares Bt3, WS3 e GLTP. De acordo com Lucia Vivan, entomologista e pesquisadora da instituição, as avaliações seguirão até o final do ciclo a fim de verificar se haverá presença dessas pragas.
Já em cultivares não-Bt, nos mesmos experimentos, os danos iniciaram com a desfolha das plantas e também ocorreram nas estruturas vegetativas. A presença de lagartas S. eridania começou a partir do estádio F1, com maiores danos nas folhas e consumo de brácteas, e menores danos em botões florais. A partir dos estádios com botão floral e maças, as infestações de lagartas S. frugiperda e H. armigera se intensificaram e provocaram danos nas estruturas vegetativas.
A especialista explica que foi observada a presença de lagartas S. frugiperda mesmo em cultivar Bt2, com danos nas estruturas como flores, botões e maças do algodoeiro, no entanto, em índices inferiores a cultivar não-Bt. “Essa é uma demonstração de que já existe um problema em relação à evolução de resistência para as proteínas Bt”, destaca.
Refúgio
A principal forma de evitar a redução da eficácia da tecnologia é a adoção de áreas de refúgio nas lavouras Bt. “A não adoção pode levar a um risco potencial de longo prazo. As pragas podem evoluir na resistência às proteínas Bt, levando à redução de sua eficácia, ou seja, perderemos essa ferramenta”, alerta Lucia.
Para prolongar a efetividade das proteínas Bt expressas em plantas transgênicas, é necessária a adoção de práticas conhecidas como programas de Manejo de Resistência de Insetos (MRI).
Esses programas são indispensáveis para as plantas transgênicas e demandam o plantio de algodão convencional na distância máxima de 800 metros entre as plantas, sendo 20% da área com material não-Bt.
Essa área é denominada “área de refúgio” e seu objetivo é permitir o cruzamento de insetos resistentes às proteínas Bt com insetos suscetíveis a essas proteínas, resultando em descendentes suscetíveis, restaurando com isso a suscetibilidade da população às proteínas do algodão Bt.
Manejo completo
Além do uso de cultivares Bt, WS3 ou GLTP, o controle de pragas no algodão requer um bom controle químico e biológico e práticas de manejo integrado como monitoramento, manutenção e preservação de inimigos naturais, tratamento de sementes e estabelecimento de período específico de semeadura para cultivo em cada região.
A pesquisadora ressalta também que os controles químico e biológico devem ser utilizados para as pragas que não são alvos da tecnologia Bt.
Fonte: Dayane Pozzer