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Inteligência artificial promete gestão otimizada no campo e acabar com pragas na citricultura

O movimento conhecido como agricultura 4.0, que é a integração de sistemas, softwares e equipamentos para otimizar a produção agrícola, já está sendo revolucionado pela inteligência artificial, que permite ao produtor gerir o próprio negócio e tomar decisões com uma precisão nunca antes imaginada.

Citricultores podem saber, por exemplo, quantos frutos cada árvore produziu e em que estágio de maturação cada um deles está, mesmo em lavouras com mais de 30 milhões de plantas. Pelo menos essa é a proposta da SeeTree, tecnologia israelense apresentada na Agrishow 2019, feira de agronegócio que acontece em Ribeirão Preto (SP).

O sistema possibilita ao agricultor obter uma espécie de ficha técnica de cada árvore individualmente, a partir de dados coletados por via área, com o uso de drones equipados com sensores e câmeras de alta resolução, análise das folhas, do solo e até do que está debaixo da terra.

“São várias ferramentas atuando junto, construindo um grande banco de dados que vai fornecer uma informação muito precisa e individualizada ao produtor. E combinamos tudo isso com o trabalho humano, técnico e especializado”, explica Barak Hachamov, presidente da SeeTree.

Sem revelar os segredos por trás do sistema SeeTree e nem ao menos quantos clientes são atendidos pela empresa ao redor mundo, sob a justificativa de confidencialidade, Hachamov diz que a startup tem como foco de atuação os cítricos, mas pode ser adaptada para qualquer cultura na forma de árvore, como café, abacate, palmeiras, etc.

O primeiro passo do serviço consiste na captação de imagens áreas de toda a extensão da lavoura e no mapeamento das árvores, uma a uma. O resultado é um mapa semelhante ao apresentado pelo aplicativo Waze. Aliás, um dos fundadores dessa empresa, Uri Levine, é o principal investidor de capital semente da SeeTree.

“O mais importante é que, apesar de haver muitos problemas no pomar, você só consegue ver o todo. Não é possível ver as árvores uma a uma, e é isso que a SeeTree permite. A gente consegue identificar muito cedo quantos frutos existem, qual o tamanho de cada um. É possível antecipar em cinco, seis meses, e acompanhar a maturação”, detalha.

Após o mapeamento, a saúde das árvores é avaliada em uma escala que varia de um a cinco, e cada planta recebe uma identificação de cor: verde escuro indica pés saudáveis, laranja e vermelho sinalizam alguns diferentes tipos de problemas. O sistema determina então onde os técnicos devem realizar a coleta de folhas e amostras de solo, que serão analisadas em laboratório.

“Lembrando que é uma avaliação individualizada e esse é o principal ponto. O grande avanço é conseguir antecipar, ou prevenir, os erros. Todo mundo comete erros em uma ou outra planta, mas a análise individual permite saber onde estão esses erros. Nossa equipe também orienta no sentido de corrigi-los”, diz Hachamov, cofundador da SeeTree.

Combate ao greening

Hachamov diz que a SeeTree foi criada em 2017, mas os estudos para desenvolvimento do sistema tiveram início há 15 anos, a partir da necessidade de se combater o greening nos pomares dos Estados Unidos. Também conhecida como amarelão, a doença impede os frutos de se formarem e os torna amargos, acabando por destruir a árvore.

“Começamos a fazer um trabalho para individualizar as plantas e então nos especializamos em citros, porque é uma cultura que tem um grande problema, que é o greening. Em primeiro lugar, atuamos na Califórnia, onde conseguimos identificar antes essa doença. Agora, estamos no Brasil, que também enfrenta esse problema”, afirma.

O greening realmente dizimou pomares brasileiros nas décadas de 1980 e 1990. Atualmente, estima-se que 18,5% das árvores de citros no Brasil ainda estão contaminadas pela bactéria e não há cura para as plantas doentes. Uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura determina que os produtores eliminem as árvores afetadas.

 “Estamos trabalhando na especialização da doença, identificar muito cedo as plantas com greening. Estamos separando os processos para conseguir apontar a doença até mesmo antes de o ser humano identificá-la na lavoura. Nós conseguimos separar e apontar até os ramos de uma árvore com sintomas de greening”, destaca Hachamov.

Atualmente, a forma mais comum de identificação da doença é a inspeção: os agrônomos seguem pela lavoura observando as árvores uma a uma. Por isso, na maioria das vezes, quando os sintomas de greening são encontrados, já é tarde demais e a extração da planta é realmente inevitável para evitar o contágio.

Segundo Hachamov, como a SeeTree consegue identificar sinais do greening muito precocemente, a startup também abre caminho para pesquisas científicas de controle e até possível prevenção da doença.

“Estamos em uma fase bem avançada de detecção, praticamente completa. Acredito que estamos tão desenvolvidos que nenhuma outra tecnologia no mundo atingiu esse nível na habilidade de detectar o greening. E a gente continua acrescentando informações ao sistema. Quanto mais dados temos, mais rápido acontece a detecção”, finaliza.

Por Adriano Oliveira, G1 Ribeirão Preto e Franca

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