Por Fernando Guerra*
Os fertilizantes fazem parte dos investimentos fundamentais dos agricultores e pecuaristas que planejam lavouras produtivas e rentáveis a cada safra. Estudos comprovam que a fertilidade do solo é responsável por cerca de 60% da produtividade agrícola e, por esse motivo, os agricultores devem ser criteriosos na compra e ter ciência do que está sendo, de fato, adquirido.
A escolha por formulações equilibradas e tecnológicas deve ser feita com atenção, o que pode aumentar ou diminuir a eficiência da entrega do elemento ao solo e às plantações. Outro motivo para que o produtor rural analise a formulação comprada e recebida é o fato de muitas indústrias fazerem uso de enchimentos (cargas), ou seja, adição de material inerte ao fertilizante para ajuste da fórmula, porém sem valor nutricional às plantas.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabelece a concentração máxima de 10% de enchimento na tonelada do produto final dos fertilizantes minerais destinados à agricultura. A instrução normativa também apresenta especificações dos materiais que podem ser utilizados, tais como granilha, silicato, quartzo, argila, turfa e calcário granulado. A brecha à indústria está no fato de o calcário granulado e de o carbonato de cálcio serem o mesmo material, e o nome comercial é inserido nas propagandas, vendas e embalagens na tentativa de agregar valor.
Para entender o impacto dessa adição de carga, vamos considerar uma combinação tradicional de nitrogênio, fósforo e potássio, o famoso NPK e, dependendo da fórmula, cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes. Uma composição comum é a 4-14-8 (4 partes de nitrogênio, 14 de fósforo e 8 de potássio), especialmente para lavouras de hortifrúti. Essa formulação pode ser obtida de diversas maneiras para não alterar o teor final dos macronutrientes primários.
A adição de enchimento para atingir uma tonelada, porém, afetará os teores finais dos macronutrientes secundários: quanto maior a quantidade de carga com carbonato de cálcio, por exemplo, menor será concentração de enxofre e maior a de cálcio no produto final. Esse cálcio, porém, é proveniente de granilha, que tem como principal característica a baixa solubilidade, ou seja, não desempenha nenhuma função nutricional aos cultivos. Considerando uma formulação com 10% de enchimento, ao comprar dez toneladas, por exemplo, o agricultor pagará por uma tonelada de material inerte, ou seja, sem benefício nutricional para lavoura. O prejuízo será notado em campo: o solo deixará de receber uma tonelada de nutrientes que poderiam gerar alta de produtividade e rentabilidade.
Por outro, existem opções que adicionam, ao produto final, nutrientes que contribuirão para a boa saúde dos solos e cultivos, que resultarão em lavouras mais vigorosas, sadias e produtivas. A melhor maneira para saber se o fertilizante tem ou não enchimento é, antes mesmo da concretização da compra, solicitar ao fornecedor a abertura da fórmula para conhecer a composição das matérias-primas. E é direito do cliente saber todos os detalhes da formulação que está comprando. Para os agricultores que já adquiriram dos adubos, a orientação é conferir a etiqueta e, se necessário, questionar o fornecedor.
Além dos macronutrientes, é pertinente notar os micronutrientes e a sinergia desses componentes para garantir solos cada vez mais saudáveis. Outra característica importante a ser observada é o tamanho das partículas da mistura: se os componentes tiverem granulometria variada, pode ocorrer segregação, resultando em distribuição irregular do adubo, o que leva a lavouras com baixa uniformidade de produtividade. A recomendação é escolher fertilizantes com mistura granulada, em que os nutrientes estão em composição adequada em um mesmo grânulo. Para altas de produtividade e rentabilidade, a escolha do agricultor sempre deve se concentrar em fertilizantes multinutrientes, que associam macro e micronutrientes de maneira equilibrada para atender às mais diversas plantações.
Com fertilizantes de qualidade, é imprescindível que o produtor rural siga as práticas agronômicas para o uso racional e eficiente do insumo. Uma análise de solo detalhada e aplicação dos fertilizantes seguindo os conceitos dos 4Cs do manejo [adubação com a fonte Certa, na dose Certa, no local Certo e na hora Certa] são fundamentais para garantir os melhores resultados possíveis ao atingir todo o potencial de produtividade das plantações.
Fernando Guerra, gerente de Culturas de Hortifrúti na Mosaic Fertilizantes*
Fonte: Lais A. Mariotto – CDN