Você sabia que a exportação de potássio pelos colmos da cana-de-açúcar pode alcançar 285 kg.ha-1 de potássio (K2O)? A grande exigência de potássio dos canaviais faz com que cada vez mais agricultores busquem novas formas de otimizar a adubação potássica. Conheça cinco dicas para alcançar esse objetivo!
A adubação potássica nos canaviais
O potássio é o nutriente mais absorvido pela cana durante o seu processo de crescimento. No estudo Extração e exportação de nutrientes por variedades de cana-de-açúcar cultivadas sob irrigação plena, Emílio Cantídio Almeida de Oliveira e outros pesquisadores observaram que a extração de potássio pela cana-de-açúcar é 13 vezes maior que a de fósforo, por exemplo.
Assim, é preciso uma atenção especial na hora de pensar em otimizar a adubação potássica da cana:
- Adequar a amostragem de solo ao ciclo de cortes da cana-de-açúcar
A cultura da cana-de-açúcar é considerada uma cultura semi-perene, ou seja, ela tem um ciclo produtivo mais longo que as culturas anuais, mas que não é tão extenso quanto às culturas perenes.
Em seu ciclo produtivo, a cana-de-açúcar pode receber diferentes denominações. É chamada de cana-planta quando ela é plantada e recebe seu primeiro corte. A partir desse momento, a produção das demais safras é proveniente das novas brotações dos colmos da cana-de-açúcar, e recebe o nome de cana-soca.
Essa diferença ao longo do ciclo produtivo, faz com que a amostragem da análise de solo para recomendação da adubação precise ser realizada de formas diferentes. O Instituto Brasileiro de Análises (IBRA) recomenda que:
- Para cana-planta:a amostragem de solo deve ser realizada três meses antes do plantio, recolhendo 15 subamostras de solo em “zig-zag” de uma área uniforme nas profundidades de 0-20 a 20-40cm;
- Para cana-soca:a amostragem de solo deve ser realizada logo após o corte, retirando amostras de solo a cerca de 20-25cm da linha.
No caso da cana-soca, o local da amostragem faz muita diferença na recomendação de adubação potássica e de outros nutrientes. Uma vez que, as amostras iriam superestimar os teores de potássio e fósforo, caso fossem retiradas da linha de plantio, e iriam superestimar os teores de magnésio e cálcio, caso fossem retiradas da entrelinha de plantio.
- Melhorar a atividade microbiológica do solo
Os microrganismos do solo desempenham diversas funções essenciais em uma agroecossistema e proporcionam para cana-de-açúcar diversos benefícios, que vão desde o manejo integrado de pragas a ciclagem de nutrientes.
Ao considerarmos somente o aspecto da adubação potássica, os microrganismos destacam-se pela sua participação no processo de decomposição e mineralização da matéria orgânica e ainda pela solubilização de potássio contido em minerais.
Ou seja, eles são diretamente responsáveis pelo melhor aproveitamento do potássio que fica retido nos restos culturais e em fertilizantes potássicos feitos a partir de minerais, como os pós de rocha.
No estudo Palhada de cana-de-açúcar em condição de cerrado: decomposição e disponibilidade de nutrientes, Marcelo Muniz Benedetti observou que o tratamento que apresentou o maior valor de potássio, foi de 30 mg.ha-1 de palhada com 50 kg.ha-1 de potássio.
Isso se torna possível, porque o potássio não está ligado em moléculas orgânicas e com isso é rapidamente liberado, apesar taxa de mineralização da palhada ser naturalmente mais baixa.
Mineralização do potássio da palhada de cana-de-açúcar. (Fonte: BENEDETTI, 2014)
- Considerar as características do fertilizante na hora de escolher o modo de aplicação
Apesar do potássio apresentar pouca mobilidade no solo, os problemas com lixiviação desse nutriente são recorrentes com a aplicação de fertilizantes muito solúveis em solos com baixa capacidade de troca catiônica (CTC).
A lixiviação acontece quando os nutrientes se perdem para as camadas mais profundas do solo. Muitas vezes, a aplicação única de potássio de fontes muito solúveis no sulco de plantio pode favorecer esse processo, uma vez que no início do ciclo da cana-planta o sistema radicular é pouco desenvolvido.
Com isso, a escolha adequada do modo de aplicação dos fertilizantes, considerando as características do fertilizante, é essencial para se evitar perdas de potássio. Os dois principais fatores que podem afetar essa escolha são a solubilidade e o índice salino.
A solubilidade, como o próprio nome sugere, é um parâmetro capaz de medir a quantidade máxima que os fertilizantes conseguem se dissolver na solução do solo. Já o índice salino é uma medida da tendência do adubo para aumentar a pressão osmótica da solução do solo, ou seja, quando esse índice é alto ele pode levar a morte microbiana e de raízes da planta.
De forma geral, os pesquisadores recomendam o parcelamento ou fracionamento das doses de potássio para aqueles com elevada solubilidade e índice salino, principalmente em solos de textura arenosa ou média. Já a aplicação única é indicada para os fertilizantes de baixa solubilidade, por apresentarem uma liberação progressiva de nutrientes.
- Evitar o uso de fertilizantes potássicos com altos teores de cloro
O uso de fertilizantes potássicos com altos teores de cloro devem ser evitado, uma vez que eles podem proporcionar diversos efeitos indesejados no canavial.
No estudo Nutrição potássica em soqueira de cana-de-açúcar colhida sem queima, o pesquisador Hilário Júnior de Almeida avaliou os efeitos do uso do Cloreto de Potássio (KCl) na cultura da cana-de-açúcar, um fertilizante potássico composto por 47% de cloro e com um elevado índice salino (116%).
Ele chama a atenção para o fato de que a toxidez do cloro pode ser um fator limitante no crescimento e na produtividade de colmos da cana-de-açúcar. Além disso, a alta salinidade dessa fonte também teve influência no rendimento mais baixo da lavoura.
Outro estudo, feito pela Verde em parceria com a Delta Sucroenergia, mostrou que o uso do Cloreto de Potássio em comparação com outra fonte livre de cloro reduziu o perfilhamento da cana-soca em 11,56%, que é o processo que leva a emissão dos ramos laterais e formação da touceira da cana.
Indiretamente, elevado teor de cloro também pode comprometer o desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar. No estudo Stabilization of Expansive Soil Using Potassium Chloride, pesquisadores indianos observaram que o excesso de cloreto diminui a umidade e aumenta a compactação do solo.
A cana-de-açúcar é muito afetada pela compactação do solo, já que apresenta cerca de 85% do seu sistema radicular concentrado em até 50cm de profundidade. (Fonte: SAROL,et al, 2020)
- Aplicar a dosagem adequada
A aplicação de potássio na dosagem adequada é muito importante, pois quando em excesso, além de trazer prejuízos econômicos para o agricultor, afeta negativamente alguns aspectos da cultura, como:
- Prolongamento do processo vegetativo;
- Atraso no acúmulo de sacarose;
- Alto teor de cinzas, que prejudica o processo de cristalização;
Dr. Rafael Otto e outros pesquisadores também destacaram que as doses excessivas de K (superiores a 150 kg.ha-1 de K2O) limitaram o crescimento e a produtividade da cana-de-açúcar nas condições dos experimentos do estudo Manejo da adubação potássica na cultura da cana-de-açúcar.
Mas como evitar essa condição?
O manejo eficiente de potássio exige um bom conhecimento do solo
Para alcançar o manejo eficiente de potássio é preciso ter um bom conhecimento do solo através das análises com uma boa amostragem. Porque é com base nelas, que se torna possível estabelecer planos de ação para melhorar a atividade microbiológica do solo e definir a dosagem adequada de potássio para o canavial.
Além disso, é muito importante se atentar a escolha do fertilizante potássico mais adequado, aliado ao modo de aplicação, para evitar problemas de lixiviação de potássio e salinização do solo e realizar um manejo eficiente de potássio na cultura da cana-de-açúcar!
Fonte: verde.ag