A Embrapa Milho e Sorgo trabalha desde 1988 desenvolvendo pesquisas voltadas para o setor de biofábricas que produzem a vespa Trichogramma. Este inseto benéfico é uma alternativa de controle para a principal praga do milho e do sorgo, a lagarta- do-cartucho (Spodoptera frugiperda).
O objetivo da equipe de pesquisadores é capacitar técnicos, consultores e extensionistas para uso da tecnologia no campo. Além disso, tem o propósito de licenciar empresas privadas para produzir o agente biológico em escala comercial.
Para que a tecnologia chegue mais rapidamente aos agricultores, a Embrapa e seus parceiros instalaram na safra 2015/2016 uma Unidade de Demonstração na Fazenda Cubatão, propriedade do senhor José Lourenço de Paula, em Quartel Geral, Minas Gerais. E, desde então, foi usado o controle biológico com a vespa Trichogramma visando principalmente a redução da população da praga principal nas lavouras de milho e de sorgo.
O pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo, explica que a tecnologia usada teve um duplo objetivo: “primeiro cumprir o seu papel sobre a praga-alvo, e em segundo vem a tomada de decisão de não se aplicar um produto químico para a mesma praga”.
“A ausência do produto químico não só evitou a eliminação das espécies benéficas já presentes, mas ainda em baixo número, como permitiu que outras espécies fossem chegando. E, juntas, poderem exercer o papel como agentes de controle biológico tanto da praga-alvo como de outras espécies fitófagas. A simples mudança de uma tecnologia de controle disruptiva pelo controle biológico aplicado (aquisição e uso do Trichogramma), permitindo a sobrevivência e consequentemente o aumento populacional dos organismos de controle natural (controle biológico conservativo), propicia uma redução ampla no complexo de insetos fitófagos no sistema produtivo”, explica Ivan Cruz.
Cruz faz parte da equipe deste projeto e coordena o programa de controle biológico com macrorganismos na Embrapa Milho e Sorgo. Ele trabalha nesta linha de pesquisa há anos, com aplicações tanto no Brasil como no exterior, notadamente nos países africanos, onde infelizmente a lagarta-do-cartucho já chegou. “O modelo adotado já está sendo aplicado em alguns países da África e deve ser replicado para outras regiões do Brasil, especialmente porque o milho é produzido em todo o país, tanto em áreas muito grandes como em áreas muito pequenas. E o controle biológico pode ser aplicado em todas as situações”, ressalta Cruz.
Em uma observação qualitativa, dentre os insetos benéficos, o que mais se destacou na área da Fazenda Cubatão foi a tesourinha (Doru luteipes). “Esta é uma importante observação por causa dos aspectos bioecológicos deste inseto. Ele tem um ciclo de vida longo, o que dificulta a sua multiplicação em biofábricas, mas é muito eficiente no campo. E o controle biológico com o Trichogramma permitiu a multiplicação deste inseto benéfico na lavoura. Ou seja, o controle biológico conservativo contribuiu para o restabelecimento da natureza em uma base natural, com ganho quantitativo e qualitativo no sistema de produção”, explica o engenheiro agrônomo Sinval Resende Lopes, da Embrapa.
Ele relata que ao longo de quatro anos, o controle biológico aplicado juntamente com a utilização de práticas adequadas, direcionadas a favorecer o controle biológico conservativo, contribuiu para a redução das perdas de produtividade. “O aumento de insetos benéficos nas áreas de cultivo, colaborou para manter a população das pragas abaixo do nível de dano econômico e, consequentemente, para aumentar a quantidade e qualidade das forragens em lavouras de milho e de sorgo, cuja produção é destinada para silagem para suplementação alimentar do gado de leite , explica Lopes” .
José Lourenço conta que desde o primeiro ano de utilização do controle biológico de pragas em suas lavouras percebeu os benefícios da tecnologia. Na Fazenda, a área cultivada é de sete hectares. “Não tenho mais preocupações. Faço o manejo de forma correta, e o controle biológico funciona”, diz o agricultor.
“Aqui tenho, além do Trichogramma, as tesourinhas e outros insetos benéficos para o controle de pragas da minha lavoura. Além do milho e do sorgo, planto o feijão e outras culturas para consumo próprio”, ressalta Lourenço. Na fazenda, o leite é destinado para a fabricação de queijo. Toda a produção de queijo vai para o comércio local e para o Mercado Central de Belo Horizonte.
O técnico extensionista da Emater Fernando Cesar Couto, de Abaeté-MG, ressalta que o controle biológico foi uma alternativa viável para o controle da lagarta-do-cartucho em áreas de milho e sorgo para a produção de forragem, uma vez que os insumos têm custo elevado. “O controle biológico além de reduzir custos, preserva a entomofauna e, consequentemente, reduz o custo de produção de silagem para a suplementação do rebanho no período da seca”, diz o técnico.
“Neste ano, foi implantada mais uma Unidade Demonstrativa na região. Uma parceria muito importante. A Embrapa realiza a transferência do conhecimento, da pesquisa. A Emater promove assistência técnica e difusão para os agricultores. A instituição Sicoob Credioeste viabiliza o crédito, e a biofábrica auxilia na distribuição do agente biológico”, declara Couto.
Este projeto é feito por meio de cooperação técnica entre a Embrapa, o Sicoob Credioeste e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nos município de Abaeté e Quartel Geral, em Minas Gerais, com o apoio da Emater Minas. E proporciona acesso a crédito, transferência de tecnologia e difusão por meio da extensão rural. As ações no Sicoob Credioeste são coordenadas pela engenheira agrônoma Débora Brito.
Fonte: Agrolink c/Inf. Assessoria
Crédito: Edgardo González Carducci